O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 11 Abril 2024

Um cheirinho de alecrim: Novas Cartas Portuguesas no Brasil
Assinalando o aniversário redondo da Revolução dos Cravos, a escritora brasileira Nara Vidal regressa ao livro charneira de Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta.

A revista brasileira Quatro Cinco Um dedica o destaque de capa da sua última edição aos 50 anos do 25 de Abril. Entre vários textos que compõem um longo dossier, a escritora Nara Vidal assina este, sobre as Novas Cartas Portuguesas, livro de Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta que fez abalar os estertores finais do regime fascista. O livro tem nova edição no Brasil e é o pretexto para Nara Vidal reflectir sobre o feminismo e o seu contributo para um mundo onde a justiça e a igualdade não sejam palavras vãs: «Na arquitetura de uma ditadura, porém, a censura não basta. É preciso criar ou alimentar uma narrativa única e com uma linguagem específica que controle qualquer tentativa de desordem. Os três pilares “Deus, pátria e família” são os temas mais nitidamente explorados. Argumento, no entanto, que cada um deles é fomentado precisamente pelo papel bem desempenhado da mulher controlada, e mais precisamente, do seu corpo dócil, como se referiu Foucault a esse aspecto de estrutura de poder.»

O livro das Três Marias, que por este nome ficaram conhecidas enquanto autoria colectiva, até porque nunca revelaram quem escreveu que partes do livro, continua a suscitar debate, por vezes aceso, e a pôr em causa uma ordem que separa e hierarquiza, menorizando as mulheres, as suas vontades, os seus desejos, a sua vivência. O que se escreveu há mais de meio século mantém toda a pertinência, como sublinha Nara Vidal: «O que continua sendo surpreendente é a resistência, quando não a rejeição, de mulheres em abraçar as próprias causas, por medo, ignorância ou maldade. Talvez isso comece a explicar o espantoso silêncio de Novas cartas portuguesas no seu próprio país durante anos que seguiram à sua publicação. Talvez por medo de abraçar a mudança, mesmo que ela te favoreça, ou a ignorância que, em estruturas autoritárias, é logo preenchida pela demagogia que dá razão a narrativas opressoras.»

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