Editorial 3 Abril 2024

Preservar Abril, Sempre!

Um em cada cinco portugueses considera que o 25 de Abril trouxe tantos malefícios como benefícios para o país, revela um estudo coordenado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa e divulgado recentemente pelo Público.

Antes do 25 de Abril, as mulheres não podiam votar e precisavam da autorização do marido para viajar para o estrangeiro e abrir conta no banco. Os jovens eram enviados para África para matar e morrer numa guerra sem sentido. Vivia-se numa sociedade em que o medo imperava, em que a violenta e arbitrária polícia política tinha poderes absolutos. A Censura decidia o que os órgãos de comunicação social e as editoras podiam publicar, condicionando, desta forma, o que os cidadãos poderiam saber sobre que acontecia no mundo. Não havia liberdade política e quem expressava o seu desacordo relativamente à Ditadura acabava perseguido e preso sem direito a um julgamento imparcial.
Em resumo, por estas e por tantas outras razões, Liberdade era uma palavra vazia.

Passados 50 anos do dia em que a democracia foi restituída, é preciso contar a sua história, manter viva a memória de como era viver em ditadura, fazer as novas gerações entenderem (e relembrar as menos jovens) da importância de se viver em liberdade.

A História muitas vezes é pendular e enganam-se os que pensam que ela caminha sempre rumo ao progresso. Nos últimos anos espalham-se e ganham força pelo mundo ideias que pareciam já não ter espaço na sociedade, como discursos xenófobos, machistas, supremacistas e de negação de direitos e liberdades individuais e colectivas.

É preciso preservar Abril, lutar para que o que foi conquistado a duras penas não nos seja tirado. Os 50 anos da Revolução são um bom momento não só para celebrar o acontecimento que colocou fim a uma das ditaduras mais longas da Europa, mas para afirmar, definitivamente, a importância das conquistas que ela trouxe.