Museus virtuais
O ecrã não substitui a vida, mesmo que o transportemos nos bolsos acreditando que temos o mundo na mão. Ainda assim, esse pequeno ecrã ou outros de maior formato podem ser uma janela para a arte e a cultura que se guardam em tantos museus do mundo.
Durante os períodos de confinamento provocados pela pandemia de Covid-19, tornaram-se frequentes as exposições virtuais. Museus de todo o mundo organizaram galerias devidamente contextualizadas e legendadas onde, através de um ecrã e uma ligação à internet, podíamos visitar colecções e admirar peças artísticas e históricas. Foi uma solução de recurso, que permitiu manter o acesso a algumas vertentes da cultura num momento em que muita gente não podia sair de casa e em que museus e galerias estavam de portas fechadas.
Estas exposições virtuais não foram, no entanto, invenção da pandemia; já antes alguns museus as disponibilizavam nos seus sites e continuaram a fazê-lo, mitigando distâncias geográficas. Visitar os locais e observar as peças ao vivo não é substituível pela observação virtual, claro, mas esta visita no ecrã pode dar a descobrir artistas e peças, colecções e contextos, ajudando a compreender os movimentos e os conflitos que alimentam a História da Arte e, sobretudo, permitindo que tantas pessoas que não têm como visitar os museus ou as galerias podem, ainda assim, conhecer parte do seu conteúdo.
O modo de apresentação das exposições e colecções varia muito. Há museus que desenvolveram parcerias com a Google, como o Museu Van Gogh, e que apresentam uma organização semelhante no modo de aceder aos conteúdos: um conjunto de exposições onde podemos aceder a temas, leituras ou abordagens específicas a uma obra ou a uma colecção; uma visita virtual onde “andamos” pelos corredores do museu e podemos aumentar a imagem à medida que nos vamos deparando com quadros, esculturas ou outras peças nas paredes. Algumas instituições, como o National Museum of Women in the Arts, recorrem a estruturas mais simples, apresentando registos fotográficos das peças juntamente com legendas, por vezes muito detalhadas e com ligações a outras fontes bibliográficas que permitem ao espectador, se assim o desejar, aprofundar o seu conhecimento sobre um artista, uma obra, um determinado período histórico. Independentemente dos recursos informáticos e do investimento, estes e outros museus têm no mundo virtual uma porta de entrada para os universos que guardam entre paredes.
Galerias Uffizi
No centro de Florença, o edifício que alberga as Galerias Uffizi impõe-se na Plaza della Signoria. É um dos mais importantes repositórios da arte europeia renascentista, mas a sua colecção inclui obras de pintura e escultura dos séculos XII ao XVIII. Nas salas deste monumento florentino podem ver-se trabalhos de Leonardo Da Vinci, Ticiano, Botticelli ou Rembrandt.
Uma das exposições virtuais disponíveis convida o visitante a percorrer os desenhos de Federico Barocci, pintor italiano que viveu entre o século XVI e o início do século seguinte, e a descobrir-lhe os processos de trabalho. A mostra segue, no ecrã, a estrutura da exposição com o mesmo nome que esteve patente nas Uffizi entre 2015 e 2016.
Federico Barocci tinha como um dos métodos de aperfeiçoar a figura humana a sua repetição através de desenhos sucessivos, partindo dessa reiteração da mesma figura para uma análise dos pormenores anatómicos, fisionómicos e outros para alcançar um resultado final que satisfizesse o seu compromisso com o detalhe. Isso mesmo pode ver-se nos desenhos disponíveis on-line, onde também são visíveis as anotações sobre proporção e escala, como acontece no esboço preparatório do quadro Anunciação, que pertence à Pinacoteca do Vaticano, e que integra esta exposição virtual, uma das várias disponibilizadas pelas Galerias Uffizi.
Museu Van Gogh
No centro de Amesterdão, o Museu Van Gogh é o local onde se reúne a maior colecção de obras deste pintor do século XIX, para além de outros materiais pertencentes ao seu espólio como cartas e objectos pessoais.
Integrando uma parceria com a Google, o Museu Van Gogh apresenta várias exposições virtuais que, a partir de um tema, dão a ver a obra do autor. Neste momento, estão disponíveis as exposições sobre a relação entre Vincent Van Gogh e o seu irmão, Theo Van Gogh, a vida amorosa do pintor e uma outra sobre as suas leituras. Nesta última, ficamos a saber que Charles Dickens, Jules Michelet, Émile Zola e Alphonse Daudet foram quatro dos autores que marcaram a vida de Van Gogh enquanto leitor, influenciando a sua forma de percepcionar o mundo e também alguns dos seus quadros.
Para além das exposições temáticas, é possível percorrer centenas de quadros pertencentes à colecção do Museu, ficando a conhecer a sua história, os detalhes que os compõem e o papel que assumiram na obra de Van Gogh e no seu reconhecimento, que foi sobretudo póstumo.
National Museum of Women in the Arts
Para além da sede das instituições que compõem o Governo Federal norte-americano, Washington é também a casa do National Museum of Women in the Arts. Mais do reunir peças criadas por artistas mulheres, esta instituição cria exposições que permitem lançar discussões públicas sobre a pouca representatividade que as mulheres assumem nos meio artísticos e museológicos.
Fundado por Wilhelmina Cole Holladay, coleccionadora de arte e mecenas de vários projectos artísticos, este museu apresenta mais de vinte exposições virtuais, desde a mostra bio-bibliográfica dedicada à fundadora da casa às retrospectivas dedicadas às fotógrafas Mary Ellen Mark e Graciela Iturbide.
Entre as várias exposições disponíveis no site do museu, destaca-se uma mostra epistolográfica que reúne várias cartas trocadas entre Frida Kahlo e a sua mãe. Mamacita Linda: cartas entre Frida Kahlo e a mãe, 1930 a 1932 tem a particularidade de ter tradução em português e, para além das cartas, inclui várias fotografias da pintora mexicana, muitas delas em ambiente familiar.
→ National Museum of Women in the Arts
Museu Iziko
Com sede na Cidade do Cabo e várias sucursais espalhadas por outros pontos da África do Sul, o Iziko Museum foi criado em 1852 e reúne colecções de índole muito diversa, de obras de arte a objectos históricos ou do quotidiano. As exposições virtuais incluem uma mostra dedicada a Nelson Mandela e outra que apresenta parta da imensa colecção de arte do empresário sul-africano William Fehr, falecido em 1968.
Uma dessas exposições, Samuele Makoanyane (1909 – 1944), dá a ver com grande pormenor uma série de pequenas figuras em cerâmica, obra de Samuele Makoanyane, ceramista nascido no Lesotho. Com recurso a um sistema tridimensional de ampliação de imagens, é possível “manejar” cada uma das figuras, aumentando detalhes e percebendo as diferentes formas da figuração que deu fama ao trabalho deste artista. Não substituindo o visionamento ao vivo das pelas, a verdade é que esta exposição virtual permite modos de observação que a presença física do espectador junto do objecto não permitiria, confirmando a tecnologia como possível aliada da divulgação artística e cultural.
Museu Bordalo Pinheiro
Em Portugal, vários museus incluem pequenas exposições virtuais nos seus sites, acompanhando um movimento que tem vindo a intensificar-se a tirando partido da internet para alcançar mais públicos.
No site do Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, uma secção dedicada às exposições virtuais apresenta duas propostas: a primeira, um story map intitulado A Lisboa de Bordalo, onde o visitante-internauta pode percorrer várias ruas, praças e edifícios da cidade. Da Rua da Fé, onde Bordalo nasceu (em 1846), passando por vários locais onde viveu, desenhou ou sobre os quais deixou registo visual nas suas múltiplas reflexões desenhadas sobre o seu mundo, este percurso virtual pode ser um bom ponto de partida para passarmos ao real, acompanhando um dos passeios com o mesmo nome da exposição que o Museu Bordalo Pinheiro organiza regularmente pela capital portuguesa.
A segunda exposição virtual é dedicada a Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, filho de Rafael, e seu seguidor nos passos do humor, da ilustração e da cerâmica. Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920) acompanha a vida e a obra de Manuel Gustavo, mostrando trabalhos da sua autoria, mas também uma série de fotografias que ajudam a conhecer melhor a biografia deste autor, tudo sempre devidamente enquadrado numa série de textos informativos que permitem manter o contexto sempre presente enquanto se percorrem as imagens.