
Do outro lado
Andrew J. Ross
Orfeu Negro
Tradução de Joana Cabral
Num muro muito alto, uma menina desenha com giz. A certa altura, aparece alguém, determinado a chegar ao outro lado do muro. Aparentemente, há lá algo incrível que merece ser visto. A menina não parece especialmente curiosa. No entanto, mostra-se disponível para ajudar. Este é o primeiro momento que se voltará a repetir ao longo da narrativa. A estrutura permite que o leitor antecipe o que vai acontecer e as palavras que o descrevem. A par das tentativas falhadas de ultrapassar o muro, a repetição destaca igualmente a solidariedade da protagonista, apesar da indiferença de todos os que tentam, sem a sua ajuda, atingir aquele objetivo. O final revela a sabedoria da menina e oferece ao leitor a chave para matar a sua curiosidade. A composição da ilustração denota o sentido de movimento da animação, com detalhes expressivos que enfatizam a oposição entre a personagem da menina, sempre na página esquerda, e das outras crianças que vão aparecendo, na página da direita. O muro ora preenche a página até ao topo, ora deixa o leitor vislumbrar o céu cinzento do inverno. Todos estes detalhes contribuem para a surpresa da revelação final.
Entre o imaginário e os valores da empatia e da resiliência, este álbum exemplifica o que o rigor da estrutura faz ao serviço da simplicidade e da coerência, para leitores desde tenra idade.