O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 16 Setembro 2025

Colonialismo Globalizado
Os mecanismos coloniais que fazem funcionar a grande indústria do turismo, a especulação imobiliária e a ascensão do discurso de extrema-direita.

O arqueólogo e investigador espanhol Alfredo Gonzalez Ruibal passou pelo Algarve no período estival. A viagem e a estada na costa sul de Portugal deveu-se à participação num congresso arqueológico, mas Ruibal estendeu a sua atenção ao contexto que o rodeava e foi assim que escreveu «De vacaciones en las colonias», texto que saiu no diário espanhol Publico no início do mês passado. Logo nas primeiras linhas, fica esclarecido o uso do termo “colónia” aplicado à região turística algarvia: «Porque el Algarve no es Portugal. Es tierra colonizada. No solo eso, es un ejemplo clásico de colonialismo moderno, que se puede definir como el proceso de ocupación de territorios extranjeros, de expropiación de recursos humanos y materiales en dichos territorios y de creación de un régimen de segregación basado en asimetrías económicas, sociales y raciales. Lo que voy a describir no difiere en nada de lo que se puede encontrar en Baleares, Canarias o diversos puntos de la costa mediterránea.»

A partir daqui, Alfredo Gonzalez Ruibal desenvolve um argumentário que pode incomodar quem acredita no turismo e na gentrificação como salvação da humanidade, mas que não espanta quem diariamente atravessa ou frequenta várias cidades portuguesas ou espanholas onde tudo, dos serviços ao direito à habitação se converteram em danos colaterais dessa necessidade imperiosa de satisfazer o turismo endinheirado. A comparação com o registo colonial não é exagerada quando se observa, como faz o autor, a realidade e os factos que a sustentam: «En el Algarve, los subalternos que no trabajan en la hostelería lo hacen en las plantaciones, que también las hay. Mientras los blancos disfrutan del ocio, la población racializada, casi toda procedente de las excolonias, trabaja de sol a sol en invernaderos, a suficiente distancia para no molestar a los señores. No hay segregación social sin segregación espacial. Los amos llegan al Algarve en vuelos comerciales o en jet privado antes de dirigirse a su residencia de lujo o a su yate en Quarteira, donde se encuentra una fenomenal concentración de embarcaciones de más de dos millones de euros.»

→ publico.es