Aqui estamos nós – Livro dos Números
Oliver Jeffers
Orfeu Negro
Tradução de Rui Lopes
Aqui estamos nós – Livro dos Animais
Oliver Jeffers
Orfeu Negro
Tradução de Rui Lopes
Aqui estamos nós – Livro das Cores
Oliver Jeffers
Orfeu Negro
Tradução de Rui Lopes
Aqui estamos nós – Livro dos Opostos
Oliver Jeffers
Orfeu Negro
Tradução de Rui Lopes
Partindo do álbum ilustrado Aqui estamos nós, o premiado ilustrador Oliver Jeffers criou uma coleção para a primeira infância. Os quatro livros, que a Orfeu Negro veio editando em Portugal, têm páginas cartonadas e cantos redondos para tornar mais acessível o seu manuseamento por bebés e crianças pequenas. O que se destaca nestes livros são as ilustrações, recuperadas do álbum original e que dialogam entre si. Significa isto que o bebé pode reconhecer a baleia ou o urso polar que identificou no livro dos animais quando explorar o livro dos opostos. Para além deste primeiro momento em que a criança associa a imagem ao nome, há depois o acréscimo de uma característica: se no livro dos nomes a palavra associada à figura da baleia é justamente baleia, já no livro dos opostos é a palavra grande. O mesmo acontece com o urso polar que se descobre ser felpudo.
Este jogo de intertextualidade resulta em vários processos cognitivos: o da identificação de uma figura, a associação de uma figura a um termo lexical que a define, a recuperação pela memória da figura e do seu respetivo nome e o alargamento do conhecimento sobre ela com a descoberta de uma característica que também se converte num acréscimo vocabular.
Se os quatro livros exploram temas sobejamente trabalhados com este público, é evidente que o universo escolhido por Jeffers amplia muito os desafios que se colocam ao leitor, estimulando a sua curiosidade e a exploração autónoma dos livros.
Jeffers não tem pejo em apresentar conceitos mais abstratos, nomes de animais desconhecidos, quadros espaciais com múltiplos elementos, ao contrário do que normalmente se pratica neste tipo de livro informativo/ enunciativo.
A título de exemplo vale a pena determo-nos no livro das cores. A dupla página dedicada ao roxo, em que a cor é a única palavra escrita, integra duas montanhas, um drone, um círculo, uma árvore e um vestido, todos roxos. A leitura implicará surpresa, espanto, quebra no reconhecimento; será necessária mediação. Porém, também oferece uma nova perspetiva sobre esta cor a par da liberdade de pintar o mundo como quisermos (um pressuposto ideológico). A ilustração da adulta a ler encostada ao tronco da árvore, enquanto a menina trepa aos seus ramos, integra a coexistência de dois comportamentos de prazer, valoriza o ato de brincar e o de ler, sem interferirem um com o outro. No livro dos opostos, este quadro regressa, com a palavra silêncio associada. Novamente, a associação de silêncio a este contexto garante uma carga positiva ao conceito. O silêncio não vem com uma imposição e sim com o prazer, a liberdade e a co-existência.
Jeffers retrata pais a dormirem, um brinquedo novo que não é moderno, o planeta, o que não vemos porque está debaixo de água, a cidade, o campo…
A acrescer aos números, às cores, aos animais, às dimensões e às sensações há a mensagem, sempre presente, de que todos partilhamos este espaço comum onde crescemos e aprendemos a olhar à volta, a olhar o outro. Estes quatro livros podem dar início ao processo.