O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 16 Maio 2022
Maria da Piedade Ferreira © Tiago Petinga

Uma editora na primeira pessoa
Maria da Piedade Ferreira é um dos nomes essenciais da edição portuguesa das últimas décadas e guarda muitas histórias que ajudam a traçar a grande história dos livros em Portugal.

Numa entrevista recentemente concedida ao jornal i, Maria da Piedade Ferreira fala do seu percurso como tradutora, criadora de chancelas editoriais e colecções, mas sobretudo editora. Conhecida pelo rigor, pelo conhecimento vasto e apaixonado do mundo literário e pela introdução nas livrarias portuguesas de nomes como Umberto Eco ou Antonio Tabucchi, a editora conta à jornalista Teresa Carvalho alguns episódios da sua vida que se confundem facilmente com a história da edição portuguesa das últimas décadas. Sobre o início da sua carreira como editora, explica que tudo começou com a tradução: «Quando a edição me apareceu, eu achei desde logo que era o trabalho da minha vida. Era mais do que eu podia sonhar: eu vinha do Vale de Santarém. Ser tradutora já seria a glória. E comecei como tradutora, com o Dinis Machado, que então trabalhava numa editora chamada Íbis, que fazia bandas desenhadas e uma colecção de policiais [a colecção «Rififi»], onde, aliás, publicou os seus três livros com o pseudónimo Dennis McShade. Ele sabia que eu queria fazer traduções e começou a passar-me esses trabalhos.» Mais adiante, uma mudança empresarial coloca-a definitivamente do lado da edição: «Depois, a íbis foi vendida à Bertrand e, nessa altura, convidaram-me para fazer traduções, mas um trabalho com outra responsabilidade. Depois, o António Ramos, que era o director editorial, convidou-me para ficar como assistente editorial na Bertrand. Tinha então 25 anos e acabei por ficar onze.»

Depois da Bertrand, veio a a Difel, a Quetzal, a Gótica, a Oceanos e, mais recentemente, a LeYa, onde é responsável pela edição de António Lobo Antunes. Ajudou a criar algumas destas chancelas, construiu catálogos que ainda hoje são referências e apostou em alguns autores desconhecidos, como foi o caso de Fernando Campos, que se estreou com A Casa do Pó, na Difel. Sobre essa estreia, conta Maria da Piedade Ferreira ao i: «Na altura, na Difel, ninguém acreditava. Também só eu o tinha lido… E tinha um director editorial, que, quando o publiquei, andava, muito contrariado, no corredor com um espanador na mão a dizer: “Dá-se um espanador a quem comprar uma Casa do Pó”. Depois, bem que se tramou porque o livro foi um sucesso.» Estas e outras histórias fazem da entrevista de Maria da Piedade Ferreira um artigo essencial para a dispersa história da edição em Portugal.

→ ionline.sapo.pt