Um século de Nosferatus
Foi em 1922 que o filme de Murnau estreou, dando ao Drácula de Bram Stoker a sua imagem mais icónica.
No El Cultural, um artigo de Jesús Palacios dá conta dos cem anos passados sobre a estreia de Nosferatus, o filme de Friedrich Wilhelm Murnau a partir do Drácula, de Bram Stoker. Para além do impacto que a primeira exibição pública do filme produziu na assistência, Palacios detém-se igualmente no processo judicial que se lhe seguiu.
Estreado em Berlim, no Salão de Mármore do Jardim Zoológico, no dia 4 de Março de 1922, Nosferatu, eine Symphonie des Grauens (assim é o título completo) foi recebido por uma plateia vestida a rigor, com roupas que pretendiam reproduzir o vestuário do século XIX, que se deixou aterrorizar pelas imagens de Murnau e pela densidade psicológica que estas criaram, convocando medos íntimos que cresciam a par com a narrativa do vampiro mais famoso de toda a criação artística e literária. Ao susto criado pelo filme, seguiu-se o susto do realizador e da equipa de produção, como conta o jornalista: «Florence Stoker, viuda del autor de Drácula, enterada del estreno de aquella (per)versión del libro de su marido, rodada sin su consentimiento y sin abonar ni un marco (o libra) en concepto de derechos de autor, removió Londres con Berlín hasta conseguir una sentencia que condenaba todas las copias, y el negativo original de Nosferatu, literalmente a la hoguera. Por fortuna, ya era tarde. El filme de Murnau se había extendido como un virus por el mundo.» Foi, portanto, graças a uma ilegalidade, um gesto de pirataria que ignorou a lei e espalhou cópias do filme por vários países, que Nosferatu pôde chegar até nós. E sem louvar o roubo dos direitos de autor alheios, não deixa de ser uma sorte que tal gesto se tenha concretizado, ou não conheceríamos a mais intensa adaptação do Drácula de sempre, aquela que continua, um século depois, a determinar a nossa memória visual no que à história de vampiros diz respeito.