Sodomita
Alexandre Vidal Porto
Tinta da China
Arruma-se bem na estante do romance histórico, mas o livro com que Alexandre Vidal Porto venceu recentemente o Prémio Machado de Assis estende o seu olhar muito para além do passado, convocando presente e futuro nesta breve narrativa ambientada no século XVII. Entre Portugal e o Brasil, chegando depois a Angola, Luiz Delgado tenta escapar à Inquisição, escondendo a sua homossexualidade num casamento de fachada. O escândalo produzido pelas preferências sexuais deste eborense degredado para o Brasil contrastam com a ausência de incómodo relativamente à escravidão, esse sistema edificado pela coroa portuguesa que vitimou milhões de seres humanos. Sodomita navega entre esses dois elementos, satirizando com esmero e rigor linguístico preconceitos e um inferno de “boas intenções” materializadas em autos de fé e gente amarrada, vendida e usada como objecto.