O burro sabe
Manuel Palaio
Christina Casnellie
Edições Cor de Burro quando Foge
A narrativa é singela: num quotidiano duro de trabalho no campo, um menino descobre as artes da moagem quando vai com um burro levar ao moleiro os cereais para moer. Poderia ser mais um texto didático disfarçado de narrativa. Se o é, não escandaliza. Mas poderá dar que pensar.
Se por um lado se valoriza a curiosidade como móbil para a descoberta e o espanto, o contexto extremamente desfavorável (a criança começa a trabalhar aos seis anos) levanta algumas questões. O texto refere a falta de condições básicas (as casas da aldeia não têm água, luz ou casa de banho) e as tarefas são árduas. Haverá uma neutralidade consciente para que seja o leitor a questionar-se em vez de ler um programa ideológico? Surtirá um efeito de denúncia social? Servirá como lugar de identificação de algumas crianças que assim também se veem representadas sem paternalismo? Por vezes os livros levam quem os lê para um lugar desviado ou desviante. Onde não há respostas prontas.