Editorial 2 Dezembro 2021

Na companhia dos livros

A escritora espanhola Almudena Grandes morreu no dia 27 de novembro, aos 61 anos, em decorrência de um cancro. Havia contado meses antes, na coluna que mantinha no jornal El País, que estava em tratamento contra a doença. A notícia da sua morte provocou uma rede de carinho e admiração de leitores e amigos. Um deles, o jornalista Ramón Lobo, lançou via Twitter um chamado: “Não sei onde será a despedida, mas Almudena Grandes merece um ato como o de Saramago em Lisboa, com os seus leitores empunhando alguns de seus livros como agradecimento”.

A convocatória espalhou-se e na segunda-feira, dia 29, ao meio-dia, o Cemitério Civil de Madrid encheu-se de livros. Centenas de pessoas carregavam exemplares de romances como Las Edades de Lulu, Te llamaré viernes e Los pacientes del doctor. Em jeito de despedida, um grupo entoou Grândola, Vila Morena, canção símbolo do 25 de Abril. Sempre envolvida nas lutas feministas e na defesa dos ideais de esquerda, Almudena também era uma apaixonada adepta do Atlético de Madrid.

Antes de o seu corpo ser enterrado, o poeta Luis García Montero, companheiro da escritora por décadas, beijou um dos seus livros e colocou-o sobre o caixão.

Em 2010, aquando das cerimónias de despedida de José Saramago, Eduardo Lourenço teve o mesmo gesto. Trouxe consigo um exemplar de Memorial do Convento e pediu que fosse enterrado junto dos restos mortais do amigo. Dias depois revelaria a dedicatória que escreveu: “Agora terás tempo para desfrutar do monumento literário que escreveste”.