O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 29 Setembro 2021
Orquestra da Prisão Central de Valência 1939 © Semanário Redención

Música contra Franco
Nas prisões franquistas, a cantiga também era uma arma. Graças ao trabalho da investigadora Elsa Calero Carramolino, esse património de resistência está agora disponível on-line.

No jornal espanhol Público, um artigo dá conta da importância da música na oposição à ditadura de Franco. Guillermo Martínez socorre-se do trabalho da investigadora Elsa Calero Carramolino para percorrer os muitos modos que prisioneiros políticos encontraram para, através da música que cantavam (e por vezes interpretavam, em orquestras de prisão e outros agrupamentos permitidos pela ditadura, por acreditar que eram um modo de reeducação…), continuarem a sua actividade política e espalharem a sua mensagem.

Quadro e coro artístico da Prisão de Mulheres de Durango 1941 © Semanário Redención
Letra de «Oh Liberdad» escrita em 1939 na prisão modelo de Valência, por Angel Bernat pouco antes de ser fuzilado © Semanário Redención

No site El Silencio Roto, uma plataforma que reúne documentos e testemunhos sobre a experiência e a prática musicais em prisões, hospitais penitenciários e campos de concentração durante a ditadura franquista, Elsa Calero Carramolino tem vindo a reunir toda a informação já recolhida sobre o fenómeno musical da resistência ao franquismo. Para além das canções que se interpretavam secretamente, a música era também um veículo de transmissão de mensagens secretas para dentro ou para fora da prisão, através de informação cifrada nas pautas. E a isso juntava-se a deturpação propositada de canções como o hino franquista “Cara al sol”, que acabaram por fazer escola, como conta Guillermo Martínez no seu artigo: «Socialistas y comunistas son los que, de forma predominante, componían el elenco cantoral de las prisiones. No parece difícil imaginar que a estas personas no les agradara cantar el ‘Cara al sol’, así que se divertían un poco con su letra: “Cuando les obligan a cantar los himnos del régimen o falangistas, una de las protestas que solían hacer era cambiarles la letra en ese momento. Por ejemplo, con el ‘Cara al sol’, lo que ellos decían es ‘Cara al sol te pondrás morena’”, explica la experta. Más allá de estos pequeños atrevimientos, las cartas se jugaban de noche, reunidos, clandestinos. Aprovechaban aquellas zonas de trabajo, como en la prisión de Yeserías con las máquinas de imprenta, o en Ventas con las de costura, para cantar susurrando, sin que se les escuchara demasiado.»

Navegando pelas várias secções do site El Silencio Roto podem conhecer-se estas e outras histórias da resistência musical ao franquismo, bem como percorrer várias obras compostas e divulgadas nas prisões e outros locais de detenção.

→ publico.es
→ silencio-roto.com