Destaque 16 Abril 2024

Livros para lembrar e cumprir abril

Aniversários redondos são motivo de festa mais rija, mas também oportunidades para investimentos bibliográficos que contribuam para registas a memória colectiva e documentar a passagem do tempo sem esquecer o que realmente importa. Nestes 50 anos do 25 de Abril de 1974, vários são os livros que chegam aos escaparates à boleia da festa – que foi bonita, pá, ainda que haja quem queira murchá-la. Entre registos documentais, reedições, testemunhos, reflexões e recriações, aqui fica uma mão cheia de sugestões para comemorar a Revolução dos Cravos entre páginas.

Noticiar a Liberdade
Vários Autores (coord. Rui Cardoso)
Imprensa Nacional/Casa da Moeda

Sem jornalismo não há democracia. Parece uma frase batida, mas a História confirma a sua precisão, independentemente da geografia e do tempo cronológico. Antes do 25 de Abril de 1974, com a imprensa censurada, essa frase era plena de sentido, mas depois da revolução, abolida a censura, confirmou que esse sentido nunca se perde. Noticiar a Liberdade, uma parceria entre a Imprensa Nacional/Casa da Moeda e o Clube de Jornalistas, reúne testemunhos de duas dezenas de jornalistas que acompanharam esse dia que mudou tudo, acompanhando igualmente os tempos seguintes. Dos acontecimentos no Terreiro do Paço e no Largo do Carmo à libertação dos presos políticos detidos em Caxias, passando pelas muitas ruas onde se celebrava a queda do regime, por lugares distantes onde chegaram os ecos da revolução e pelas diferentes redacções e emissoras que foram acompanhando os momentos diários durante e depois do 25 de Abril, este livro é um registo histórico, um testemunho colectivo e um marco assinalável que confirma que as frases batidas podem, às vezes, ser as mais certeiras máximas que nos guiam os dias.

→ loja.incm.pt


Tarrafal
João Pina
Tinta da China

Tarrafal cruza as memórias e experiências de iii gerações. A partir de uma caixa com fotografias feitas pelos seus bisavós em duas viagens ao campo de concentração – onde esteve preso o seu filho Guilherme da Costa Carvalho, avó de João Pina, detido em 1948 enquanto transportava materiais do Partido Comunista Português – o fotógrafo cria um livro que é uma memória a muitas vozes sobre um dos locais malditos do Estado Novo. As vozes são individuais, e incluem estas fotografias antigas, outras feitas por João Pina na actualidade, retratos de presos políticos que passaram pelo campo e um conjunto de cartas que escritas pelo fotógrafo em resposta a outras cartas trocadas entre o seu avô e o seu bisavô. Apesar desta marca pessoal, Tarrafal é claramente uma memória colectiva, um objecto que nos convoca a não esquecer essa herança tenebrosa das prisões do Estado Novo, do colonialismo, da opressão.

→ tintadachina.pt


Cravo
Maria Velho da Costa
Assírio & Alvim

Publicado depois da Revolução dos Cravos, em 1976, Cravo reúne mais de uma vintena de textos com características muito diversas, todos contribuindo para uma reflexão sobre o que o 25 de Abril trouxe a Portugal. Crónicas, poemas, ensaios, textos breves, cada um destes escritos carrega a marca burilada da escrita de Maria Velho da Costa, nome maior da literatura portuguesa, mas carrega igualmente o desafio de pensar, de modo inteiro e sem subterfúgios, sobre a mudança, os rumos possíveis para o futuro, a necessidade de contrariar o que, entre hábitos e conservadorismos, não desapareceu no dia 25 de Abril. De regresso às livrarias, Cravo continua a provocar pensamento e isso faz dele um livro intemporal.

→ assirio.pt


A Revolução antes da Revolução – O ano que mudou a música popular portuguesa
Luís de Freitas Branco
Livros Zigurate

Antes das duas canções que ditaram a senha para o 25 de Abril, muitas outras foram mudando pensamentos. Para Luís de Freitas Branco, autor desta investigação que cruza dados discográficos, informações sobre concertos e emissões e contexto histórico, social e político, 1971 foi o ano do “golpe musical”, aquele em que vários discos (de Sérgio Godinho a José Mário Branco, passando por Amália Rodrigues, Tonicha ou Duo Ouro Negro) chegaram às lojas e às rádios e se tornaram símbolo ou sinal de algo que se movia, ali mesmo debaixo das barbas da censura. Nesse mesmo ano, aconteceu o Festival de Vilar de Mouros e o primeiro Cascais Jazz, momentos igualmente centrais neste processo revolucionário-musical em curso ainda o PREC estava para vir. A Revolução antes da Revolução descreve esse ano mítico, três anos antes do grande dia, registando exaustivamente vários dados sobre a música que se fazia, escutava e publicava no Portugal de então e cruzando esses dados de modo a traçar um quadro amplo e revelador do que estaria para vir. Depois vieram “E depois do Adeus” e “Grândola, Vila Morena” pelas antenas da rádio e o resto, já se sabe, foi uma catadupa de mudanças a caminho da liberdade.

→ zigurate.pt


No Princípio Era o Verbo
Manuel S. Fonseca e Nuno Saraiva
Guerra & Paz

Manuel S. Fonseca escreve e Nuno Saraiva desenha a recriação da noite de 24 e do dia 25 de Abril de 1974. A dar estrutura a esse relato estão as frases e palavras de ordem que sustentaram a vertigem destes dias de mudança, bem como as imagens, pixagens e outros elementos iconográficos entretanto elevados a símbolo que foram surgindo nas paredes, nas páginas impressas, nas televisões. De “a terra a quem a trabalha” até “as putas ao poder, os filhos já lá estão”, este verbo que se apresenta como princípio terá sido, talvez, o combustível de parte destes dias agitados, mas foi sobretudo o modo de uma expressão colectiva de alegria pelo facto de, agora, cada uma e cada um ter direito à fala. Sem medo, como deve ser.

→ guerraepaz.pt