O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 5 Junho 2023
José Pinho © Daniel Mordzinski

Lembrar José Pinho
Morreu José Pinho, inventor de livrarias e outros espaços e tempos em torno dos livros, mas sobretudo activista por uma certa ideia de cultura, debate e partilha.

Fundador da Livraria Ler Devagar, criador do Fólio, em Óbidos, inventor de vários espaços onde os livros eram matéria central e cúmplice de tantos projectos que foram encontrando sempre novos caminhos, José Pinho morreu no passado dia 30 de Maio, aos 69 anos. No site Esquerda.net, o seu percurso é lembrado com detalhe, das múltiplas actividades profissionais a que se dedicou até ser livreiro às tantas pessoas com quem se foi cruzando e envolvendo, em projectos possíveis e impossíveis, sonhos partilhados e uma incansável vontade de nunca parar:

«Acabou assim “acidentalmente” por ser livreiro. Nessa condição era sócio da Nouvelle Librairie Française e adquiriu em 2017 a centenária livraria Ferin, no Chiado, a “mais bela de Lisboa” como afirmava, salvando-a do encerramento. Mas o centro da atividade era a Ler Devagar, da qual foi fundador. Esta abriu nas antigas instalações da Litografia de Portugal no Bairro Alto, em Lisboa, no ano de 1999. Em 2005 este espaço teve de encerrar e provisoriamente ficou nas instalações da Galeria ZDB. Dois anos depois, e em colaboração com outra livraria, a Eterno Retorno, criou o projeto da Fábrica Braço de Prata que contava com 12 salas de livraria, galerias, salas de concerto, bares, esplanadas e jardins. Um ano mais tarde muda-se para a Lx Factory em Alcântara, onde assentou arraiais.

A Ler Devagar foi além da “livraria de fundos” e passou a ser e “local de encontro e de debate de ideias”. É igualmente um espaço criativo multiforme, biblioteca, galeria de exposições temporárias, galeria de exposição permanente dos “Objectos Cinemáticos” de Pietro Proserpio, Auditório, Discoteca, Restaurante e Bar.

Um novo salto no mundo dos livros é dado em 2013, estando José Pinho na génese de um projeto pioneiro: uma “vila literária” que transformará o centro de Óbidos. Uma “ideia louca”, como a classificou, de fazer livrarias e residências literárias em espaços abandonados e de impor festivais literários num calendário local sobrecarregado de eventos turísticos. Com isso transformou a maneira como esta localidade é reconhecida internacionalmente. Em 2015, a UNESCO atribui-lhe a designação de Cidade Criativa da Literatura. Nesse âmbito foi coordenador da Óbidos Vila Literária, curador do Folio, o Festival Literário Internacional de Óbidos, e do Festival Latitudes, dedicado à literatura de viagens.»

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