Entrevista com Eliane Brum: «com um bloquinho e uma caneta eu entro em qualquer lugar do mundo»
Jornalista, escritora, documentarista, Eliane Brum é a repórter mais premiada do Brasil e o seu trabalho espalha-se por jornais como o The Guardian ou o El País e por livros como A vida que ninguém vê, O olho da rua ou Banzeiro Òkòtó: uma viagem à Amazónia Centro do Mundo, todos de não ficção, a que se junta Uma Duas, o seu primeiro romance. Em Meus Desacontecimentos, agora publicado em Portugal pela Companhia das Letras, faz desfilar uma série de episódios pessoais que ajudam a dar sentidos à sua história, mas que são igualmente uma reflexão profunda sobre o papel que as palavras e a escrita vêm assumindo na sua vida. De passagem por Lisboa, onde esteve para apresentar Meus Desacontecimentos, Eliane Brum falou à Blimunda sobre tudo isto e também sobre Sumaúma, o projecto de jornalismo independente que dirige na Amazónia (e que pode ser lido on-line, em qualquer parte do mundo).
Este livro tem dez anos, foi publicado no Brasil em 2014. Ainda se revê nesta Eliane que aqui nos surge?
Sim, embora em dez anos, ou em qualquer momento, na verdade, a gente pode sempre olhar e contar de outras maneiras as mesmas histórias. Às vezes tenho essa vontade, só que não dá tempo, tem tanta coisa… Mas acho que seria instigador pegar esse livro, essas histórias, e contar de outro jeito. O que eu vou vendo é toda a tessitura que vai se ampliando na minha vida ao longo do tempo, as rupturas, como um tecido onde tem uns rasgos, uns pontos meio mal feitos, é isso que é uma vida e é isso que é a infância. Quando escrevi esse livro, contei a história de como a Amazónia apareceu para mim. E conto dos almoços de domingo dos estancieiros, que contavam como tinham expulso os indígenas, e conto do indígena que morou na nossa casa.
O que escrevia as Avé-Márias em letras coloridas.
Sim, e até hoje eu sei cantar na língua dele. Mas quanto escrevi esse livro, jamais imaginei que ia morar na Amazónia. Ele era um indígena do Xingu e eu moro no Xingu, então, esses fios que estão nesse livro continuam se movendo. Quem sabe se daqui a uns anos haverá alguma história que eu vou perceber que já está aqui, no livro. Não é que esteja determinado, a questão é o que a gente faz com as experiências. Acho bem curioso como as coisas se entrelaçam.
Sem sabermos muito bem como.
A gente só sabe depois, quando olha para trás, então, o exercício de fazer um livro é muito assim, olhar para trás e entender esse emaranhado e ver onde é que as coisas foram acontecendo. Quando a gente está vivendo, não enxerga.
Uma das histórias contadas neste livro é a das radionovelas que escutava em criança e que a fizeram perceber quão grande é o poder de uma história, de contar uma história: «Foi ali que comecei a me tornar uma escutadeira que conta e conta para contar.» Apesar da rádio-novela ser ficção, o seu apelo acabou por ser, mais tarde, sobretudo pelas histórias de não-ficção. Como se passa da descoberta do poder que as histórias inventadas têm para querer contar histórias e não inventá-las?
O que me chamava a atenção ao escutar essas novelas de rádio, ao ver a empregada doméstica escutando a novela de rádio, era o impacto que a história tinha nela. O que aquele momento movia no corpo dela, na vida dela, foi isso que me ficou. Acho que desde pequena, eu nunca pensei ser jornalista; as histórias reais, com todas as limitações que essa palavra “real” tem, elas eram muito fascinantes. Eu era cercada de histórias da minha avó, dos agricultores da família, e também de livros. Então, nunca achei que as histórias “reais” fossem menos interessantes do que a ficção e isso foi sempre se confirmando. É um cliché, mas esse real, a ficção não dá conta, não tem alcance para as coisas que acontecem. Muitas coisas que acontecem no Brasil, hoje, se a gente vai contar em ficção, é inverosímil. Foi acontecendo desse jeito. Mais tarde eu fui-me inscrever no vestibular para informática e aí, na fila, troquei para jornalismo, mas nunca pensei ser jornalista. E aí teve esse professor que mudou a minha vida, de quem falo no livro.
Como é que mudou a sua vida?
A primeira entrevista que eu fui fazer para a disciplina dele foi com uma prostituta. Eu a encontrei de noite, na balada, e a gente combinou de se encontrar no outro dia. Aí eu fui nesse prédio, no centro de Porto Alegre, apertei o interfone e ela não estava, mas perguntei para a mulher que atendeu se eu podia subir. E subi. Lá em cima, na casa que era só uma sala com um banheiro, apareceu uma outra prostituta. Ela estava nua e no banheiro estava o cafetão, também nu. Perguntei se eu podia entrar e eles disseram que sim. Fiquei olhando e pensando onde é que eu ia sentar, porque só tinha uma cama, e sentei no cantinho da cama e comecei o meu trabalho. Não me lembro da entrevista, do que eles disseram, e nunca cheguei a fazer essa matéria. Quando desci, foi esse momento que deu uma virada na minha cabeça: estava frio, um dia de sol com frio, e eu estava na rua com o meu bloquinho e a minha caneta e pensei que com um bloquinho e uma caneta eu entro em qualquer lugar do mundo! Acho que foi aí que o jornalismo me pegou. E depois disso fiz muitas entrevistas em lugares incríveis e inusitados e sempre achei fascinante as histórias reais, e muito nessa linha de Meus Desacontecimentos. É um caminho que eu sigo muito no jornalismo, com muita dificuldade, porque não é o mainstream e é muito difícil começar. Mas depois de onze anos de jornalismo consigo fazer a vida que ninguém vê, ganho uma coluna de reportagem, e aí era esse exactamente o desafio: mostrar que toda vida é extraordinária. É só uma questão de como olhar para ela.
Apesar desse fascínio pelas histórias a que chamamos reais, escreveu também um romance, Uma Duas, e algures no livro diz que há realidades que só a ficção suporta. Há aqui uma dualidade entre ficção e não-ficção que talvez não seja assim tão marcada… Porque é que há realidades que só a ficção suporta?
A ficção talvez seja mais real. No jornalismo, a gente conta histórias de pessoas que vivem, que estão atrás de comida para tomar o café da manhã, têm relações com outras pessoas, têm dores, que estão aí no mundo com todas as suas questões. Há coisas que a gente não pode contar, porque senão vai destruir essas pessoas de diversas maneiras. Ou eu não posso contar porque senão elas são ameaçadas de morte, ou não posso contar porque nem tudo pode ser dito e essa é uma grande responsabilidade que a gente tem. Na ficção, não, então tem muitas coisas que eu não pude contar e o que me leva para a ficção são os restos que ficam em mim. Em 2008, fiquei o ano inteiro fazendo reportagens sobre a morte, sobre morrer. Numa delas, eu acompanhei por cento e quinze dias uma mulher com um câncer incurável. Acompanhei ela até à sua morte e fiquei com ela na morte. Fiquei com muitos restos em mim de coisas que eu não poderia escrever, porque estava lidando com gente viva, e esses restos começaram a me perturbar muito, então a ficção é uma forma de poder contar o que não dá para contar. Ficcionalizar esse real e poder dar um lugar que faça sentido não só para mim a esses restos, tirá-los de mim. Acho que é essa a diferença entre a ficção e a não-ficção. A ficção nos protege.
Algumas das histórias que conta neste livro são uma deambulação pelas histórias dos seus antepassados, dos seus familiares, uma procura de sentidos para o presente no passado. Este processo tem algumas semelhanças com o processo da reportagem, ainda que a reportagem tenha outras regras?
Totalmente. As minhas reportagens têm sempre essa busca e acho que faz todo o sentido. Não sei se aqui essa é uma ideia recorrente, mas no Brasil a gente fala muito de futuro ancestral e acho que é um pouco isso, o futuro é mesmo ancestral. E eu sempre busco isso em todas as minhas histórias.
Há uma espécie de pequena batalha em algumas partes deste livro entre aquilo que herdamos do passado, da infância, e a nossa autonomia para definir um rumo, aquilo a que poderíamos chamar livre arbítrio.
Sim, mas eu não sei se chamaria de batalha… é o movimento da vida, sim. A gente tem os nossos factos, os nossos desacontecimentos, os nossos entendimentos, e ao mesmo tempo que a gente não tem liberdade total sobre isso, a gente também não é totalmente determinado por isso. A questão é o que fazemos com essas experiências. Ao identificá-las, elaborá-las, dar um lugar para elas, o que fazemos com isso. Acho que essa é a questão da vida: o que fazemos com as experiências. Nesse sentido, a gente tem um movimento.
Uma das histórias mais fortes deste livro é a de como Eliane sai de casa durante a noite, com cinco ou seis anos, decidida a pegar fogo à prefeitura da cidade, depois de o prefeito ter decidido encerrar a escola comunitária que o seu pai dinamizava. Foi naquele momento que ganhou uma consciência política de um modo mais pleno ou só mais tarde elaborou sobre isso, quando voltou a lembrar o episódio?
Eu já tinha muita consciência de viver numa ditadura e de que a única coisa possível a fazer era resistir, agir, mas eu sofria por ser uma criança… via meus irmãos se movendo e eu não podia. Acho que é essa consciência que me leva a querer colocar fogo na prefeitura, a tentar, claro, porque falhei. E também foi uma coisa super edipiana, meu acto de guerrilha foi Édipo total! Mas acho que é um capítulo de algo que sempre teve em mim, um caminho até chegar à caneta. Meu instrumento é a caneta.
Já não precisa de fósforos?
Não preciso e as canetas têm funcionado melhor.
Também há um lado risível nesta história, porque só a inocência de uma criança poderia acreditar que uma caixa de fósforos ia pegar fogo a uma parede de tijolo. Ainda assim, é uma história muito forte, porque há esse lado do falhanço, depois do medo de conseguir.
Para mim, o mais pesado foi o antes. Eu sabia que era uma coisa que o meu pai não gostaria que eu fizesse e eu tinha medo dessa travessia da praça à noite, no escuro. Não dormi naquela noite. E essa sensação se repetiu muitas vezes na minha vida, esse “eu tenho de fazer isso, mas não é que eu queira, só que não tem alternativa, isso é o certo a fazer”. Então, foi duro e quando não consegui, acho que tive um certo alívio. O mais importante para mim foi ter sido capaz de fazer a travessia sem me acovardar, sem recuar. Agora, se o fósforo não funcionou, não foi culpa minha, eu fiz a minha parte. Culpa das mães que diziam para não mexer em fósforos, que pegava fogo em tudo, e eu acreditei!
Meus Desacontecimentos é também um trabalho sobre a própria escrita e sobre o modo como isso pode definir uma identidade. A certa altura, escreve: «Eu era o que escrevia. Sou.» É uma ligação muito forte, que vai sendo desenvolvida ao longo do livro, como se a escrita fosse o próprio ser. Como é que se lida com essa coisa tão íntima, tão carnal, que depois vai ser partilhada com o mundo, exposta, de alguma maneira?
É uma relação muito corporal mesmo, visceral. Eu me sinto escrita, sinto as palavras em mim, é uma escrita encarnada. Tem diferentes experiências… Foi muito difícil para mim quando era jornalista nas grandes redacções, porque sempre briguei muito pelo texto. Os cortes eram muito dolorosos, às vezes tinha de ficar sozinha no escuro até conseguir me recosturar minimamente, era muito literal… Às vezes é isso, é uma nudez excessiva para mim em alguns textos. Mesmo esse livro, foi muito difícil. De todos os livros que eu escrevi, esse foi o mais difícil. Quando o lançamento estava já marcado e quando chegou o livro para mim, vi que tinha um corte imenso num parágrafo, alguém deve ter colocado um control+z e estava ali um z imenso cortando o texto. Eu ia a caminho de uma entrevista na televisão e tive de me trancar no banheiro. Depois a edição foi toda apreendida e o lançamento foi adiado. E depois, perdi um dente! Acho que agora não é mais essa a minha relação com o texto, mas era essa e eu me senti muito exposta, muito nua. Esse livro foi mais difícil publicar do que escrever.
Mas foi ideia sua publicá-lo?
Sim, foi minha. Comecei um esboço dele por sugestão de uma editora, que não existe mais, e a ideia era escolher as pessoas que foram importantes para a minha escrita. Mas só escrevi o livro depois de uma quebradeira… Tenho várias quebradeiras dessas, paralisias, na minha escrita. Esse livro veio depois de uma fase dessas, porque precisava descobrir como a palavra tinha me salvado, para depois me lançar no vazio de novo. Perceber o que era a palavra escrita para mim, para depois conseguir voltar a escrever, recuperar os meus sentidos. Foi por isso que escrevi esse livro.
Quando fala sobre jornalismo, contexto em que sabemos que há um editor e haverá cortes e reescrita, percebe-se que tudo isso é muito doloroso para si. Quase como se o cuidado com o texto jornalístico fosse também um cuidado que, para além de respeitar a deontologia, também quer respeitá-la a si própria e ao mundo.
Claro. Não pode cortar palavras, essas palavras faltam, têm corpo! Felizmente, desde 2010, quando deixei as grandes redacções, nunca mais tive esse problema. Não aceitaria mais. Claro que acho importante que várias pessoas leiam antes de publicar, e aceito sugestões, mas não essas coisas arbitrárias de cortar um parágrafo, ou botar aqui a minha palavra: “não fiz essa entrevista, não vivi isso, mas eu acho, especialmente eu, que sou homem, acho alguma coisa…” Nunca mais! As pessoas dizem que não se deve dizer nunca, mas eu digo. E hoje sou directora de Sumaúma e tenho um respeito imenso pelos textos dos outros, coloco sugestões, mas nunca mexo assim num texto.
Voltemos ao indígena que conheceu na infância e que viveu uma temporada em sua casa. É assim que a Amazónia entra na sua vida e hoje é lá que vive e trabalha. Vivendo na Amazónia, esse indígena, que entretanto morreu, continua muito presente na sua vida?
Sim, ele é muito vivo para mim. Por ser talvez a maior experiência de alteridade que eu tive, e a primeira, como criança, numa cidade extremamente racista, onde todo o mundo ao meu redor era branco, muitos europeus, alguns só falando alemão, ou italiano. Aí de repente tem um indígena em casa, com outro jeito de viver o corpo, outra pele, outras palavras, outros conflitos, histórias, músicas. Acho que até hoje não consigo avaliar o impacto que isso teve em mim. E me acompanhou também como dor, porque estava tudo errado, aquelas avé-marias que as pessoas pediam para ele escrever na língua dele, ele ter um nome que não era um nome, ele estar ali… tudo errado! Acho que esse tudo errado também me acompanhou, o facto de ser algo importante para mim, mas eu estava ali com uma pessoa violentada. Mesmo que os meus irmãos tivessem levado ele para nossa casa, deram a cama deles para ele dormir, ele passou a fazer parte do nosso quotidiano e era tratado como um hóspede na nossa casa, mas estava tudo errado, porque ele devia poder estar na floresta, falando a língua dele, não devia estar ali comigo. Era uma solidão muito grande, porque era alguém arrancado do seu povo. Eu era muito criança para entender os porquês disso tudo. Aquelas mulheres brancas da sociedade, batendo lá em casa para pedir avé-marias coloridas com aquela letra linda que ele tinha… era a redenção, claro, um selvagem, evangelizado, escrevendo avé-marias lindas na sua língua. Era tudo tão violento! Não sei. Gosto muito da tua pergunta, porque acho que nunca parei tanto tempo para pensar nisso… tudo isso é muito presente em tudo que eu me tornei, no que eu faço, onde eu estou, mas eu ainda não alcanço o quanto a percepção dessa violência foi determinante em alguns caminhos que eu tive. E eu sofro por não ter visto mais dele, por ele ter morrido. Enfim, não é uma história bonita, é uma história de violência.
E como tantas violências semelhantes, é extraordinário que as pessoas à volta não tenham percebido isso. Provavelmente acreditavam que estavam a fazer tudo bem.
Sim, sem dúvida que acreditavam.
Falemos um pouco do Sumaúma, o projecto jornalístico que tem desenvolvido na Amazónia. Que impacto tem tido nas comunidades que lidam directamente com ele, que o recebem e são objecto de notícia, mas também no resto do Brasil?
Sumaúma tem dois anos, é bem jovem ainda. Já se tornou uma plataforma que é lida por pessoas muito influentes, não só no Brasil. Um marco disso foi quando denunciámos o genocídio yanomami, em Janeiro de 2023 e isso fez com que o [presidente] Lula fosse até ao território, até Roraima, o que foi um momento importante para perceber o que uma plataforma desde a Amazónia podia alcançar. Sumaúma é também um movimento, então, o impacto não é só o reconhecimento, a leitura, a influência. A gente está fazendo o Micélio, um programa de formação de jornalistas-floresta, e essa é a essência de Sumaúma. Estamos co-formando jornalistas jovens da floresta, indígenas, quilombos, ribeirinhos, alguns das cidades, e ensinando para eles o nosso jornalismo, com todo o rigor, e eles nos ensinam como eles contam as histórias. Os indígenas contam histórias na Amazónia há mais de dez mil anos! Disso se espera, e está começando a acontecer, que vão emergir novos jornalismos, com uma outra linguagem. Então, com essa ideia de que a Amazónia é um dos centros do mundo, essa ideia do necessário deslocamento do que é o centro, do que é periferia, assumindo que o centro é onde está a vida, a natureza, a gente busca uma recentralização do jornalismo. Não são mais os jornalistas de São Paulo ou de Washington que vão para a Amazónia e depois voltam, não: em Sumaúma, contar a Amazónia é algo que vem de pessoas que não se separaram da natureza, têm uma outra experiência, são natureza, então, vão contar a partir de uma outra linguagem. Esse processo de co-formação é o mais importante, porque a gente tem um compromisso de que em dez anos essa equipe-ponte de velhos jornalistas que somos vai se afastando e eles vão progressivamente tomando conta. A redacção cresce desde a floresta a cada edição do Micélio e em dez anos a ideia é que esses novos jornalistas sejam majoritários na redacção e também nos postos de comando. Em dez anos, a gente está fora.
E em que ponto está esse processo?
Hoje a gente tem três jornalistas-floresta, formados na primeira edição, e vamos para a segunda edição. E já é enorme o tanto confronto que eles trazem com jornalistas de outras regiões do país, é outra linguagem, outra maneira de contar. Há pouco a gente publicou uma matéria do Wajã Xipai, um indígena bem jovem, do povo Xipaya, da Terra do Meio. O povo dele fica a quatro ou cinco dias de barco e ele escreve sobre o que está acontecendo com o rio, que está ficando verde. Aí dá para ver a diferença de linguagem, de onde se olha, onde a gente se coloca. Esse para mim é o principal impacto de Sumaúma, porque não tem transformação sem ocupação de poder e essa ocupação de poder está planejada, é o que dá sentido. Se não, a gente seria aquilo que acredito que a gente já é, ou seja, uma óptima plataforma de jornalismo sobre a Amazónia, mas a gente não quer ser apenas isso, quer muito mais, quer criar um novo jornalismo que não seremos nós a fazer. E ver que isso já está acontecendo é o que mais me emociona. Tenho podido escrever muito pouco, o que é difícil para mim, mas o que dá sentido a esse momento é saber que é só um momento e é ver o que eles estão fazendo, escrevendo. O Wajã me disse que ele nunca foi tão feliz como quando estava escrevendo essa matéria e isso, sim, é uma transformação. E esse é o impacto, e o impacto está vindo.