Chile 1988: Memória de um referendo
A vitória do Não no referendo chileno de 1988, para ler lado a lado com os resultados das recentes eleições presidenciais que deram a vitória a Gabriel Boric.
A velocidade a que notícias e outros conteúdos nos chegam pela internet faz-nos esquecer demasiadas vezes que o ciberespaço é também um repositório de passados, um arquivo onde parte da história pode ser consultada para que a memória não assente apenas na rapidez e na substituição de umas notícias por outras. Esse vasto arquivo compõe-se de diferentes tipologias de documentos, mas os artigos da imprensa periódica assumem particular importância quando se trata de recordar momentos concretos.
No mês em que Gabriel Boric, o candidato apoiado por uma ampla frente de esquerda, venceu as eleições presidenciais no Chile, o jornal espanhol El País permite-nos (re)ler um artigo de 1988, assinado pelo jornalista Manuel Délano, que acompanhou a campanha para o referendo chileno desse ano onde se decidiria a manutenção do ditador Augusto Pinochet no poder ou a convocatória de eleições. «Los jóvenes, agrupados bajo las multicolores banderas de los 18 partidos que se oponen a la continuidad del dictador, participaron con alegría, bailando al ritmo de cumbia, salsa y rock, mientras gritaban: Y va a caer y El pueblo unido jamás será vencido.El orador principal, el democristiano Jerko Ljubetic, presidente del comando juvenil del no, hizo un llamamiento para paralizar Chile si Pinochet pretende seguir gobernando después de ser derrotado en el próximo plesbicito de sucesión presidencial. Ljubetic pidió votar no a Pinochet, “un anciano de 72 años que hoy ocupa La Moneda y representa lo viejo y decadente”, a un general que “en no demasiado tiempo será una mancha de vergüenza en la historia”, así se presente como candidato al referéndum “de uniforme o bombero”.»
Conhecemos o resultado, com a vitória do Não, primeiro passo para o fim de uma ditadura sanguinária que ainda hoje manifesta os seus ecos em várias dimensões da sociedade chilena. Apesar disso, lemos este texto de arquivo com a esperança a impor-se e é difícil não ver nele outras possibilidades de ir mudando o que não está bem.