O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 29 Março 2021
Caetano Veloso e Gilberto Gil / DR

A Tropicália na raiz do Brasil 
Um artigo para pensar a importância do movimento tropicalista – e de algumas das suas influências primeiras, como Oswald de Andrade e a antropofagia – na cultura e na identidade do Brasil.

No site Comunidade Cultura e Arte, um artigo de Lucas Brandão discute a influência do movimento tropicalista e os seus antecedentes, nomeadamente a antropofagia preconizada por Oswald de Andrade, na definição da identidade cultural brasileira: «Na base, está o Manifesto Antropófago, que o escritor Oswald de Andrade escreveu em 1928. Era um sentido que procurava desvincular-se com o passado, orientado para uma postura cada vez mais universal e, de certa forma, revolucionária. No processo, a repressão política e social que se começou a sentir e que violou as liberdades de criação e de pensamento cultural. O grande sentido do tropicalismo seria importado pelo artista plástico Hélio Oiticica, que se alimentaria da antropofagia proposta pelos modernistas brasileiros para o conceber. E assim foi, com esse mesmo sentido universal, de uma alimentação em relação às influências do exterior, mesclando-as com as expressões do interior, para desenhar essa linguagem capaz de abarcar todo o mundo. O sentido de potenciar os valores positivos de ambas as influências ajudam a esclarecer uma postura que se procura desvincular de qualquer sentido colonial.» Depois de uma contextualização detalhada sobre os primórdios do tropicalismo, o autor prossegue focando-se na música, expressão mais reconhecida deste movimento, onde se destacaram nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Nara Leão ou os Mutantes, entre outros: «O tropicalismo sumariza, assim, um crescente debate e um assomo de criação artística, que se separa dos convencionalismos até aí existentes. A expressão Tropicália advinha da classificação de Oticica do ambiente que se vivia na mostra da Nova Objetividade Brasileira, um movimento importado da Alemanha, como resposta ao expressionismo artístico, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de 1967. É ele o autor desse ecossistema, que reúne elementos naturais, desde árvores a pássaros, até poemas e outros registos. Era o primeiro confronto de uma tropicalidade silenciada de um Brasil que procurava a sua expressão cada vez mais puritana, e foi um tema que não deixou de preocupar o artista, ele que escreveu sobre esses problemas e apela à participação do espectador. Era um autêntico labirinto, recheado de referências críticas, tanto à questão da pureza artística, mas também ao acentuado pendor dos elementos da Natureza nas obras que eram feitas até então.» Às raízes locais, que tanto bebem de manifestações da cultura indígena como das muitas trocas entretanto efectuadas pelo contacto entre gente de origens muito diversas, os tropicalistas juntarão as influências entretanto chegadas dos Estados Unidos ou da Europa, da música, mas também do cinema, da literatura, do design e das artes plásticas. O resultado foi, nas palavras de Lucas Brandão, «uma brasilidade modernista, que pudesse extrapolar os limites impostos pela superficial cultura brasileira, e que pudesse, efetivamente, cumprir-se como universal», uma espécie de identidade complexa, assumidamente mestiça e capaz de definir alguns traços essenciais naquilo que hoje conhecemos como cultura brasileira.

Comunidade Cultura e Arte