A Jennifer Chan não está sozinha
Tae Keller
Fábula
Tradução de Dulce Afonso
A narrativa acompanha um mistério: uma adolescente, Jennifer Chan, desapareceu e a cidade mobiliza-se à sua procura. Mallory alimenta uma profunda angústia devido a algo que se passou entre ambas e a que chama “o incidente”.
Este é o ponto de partida da narrativa. A estratégia é comum: o leitor começa a colocar hipóteses e, inevitavelmente, a procurar pistas ao longo da leitura. E a narrativa vai alimentando este diálogo: o passado e o presente vão-se alternando na voz da protagonista. Não há qualquer intenção de adensar a estrutura do texto, apenas de corresponder à criação de expectativas e à produção de juízos de valor. Os capítulos estão claramente identificados – agora/ antes – para que o leitor se situe e perceba o contexto que vai sendo apresentado. A intenção cumpre-se e a estrutura mostra-se eficaz. A certa altura, é a protagonista que coloca duas hipóteses para o desaparecimento de Jennifer: ou desapareceu por causa do incidente ou foi raptada por extraterrestres.
Em pano de fundo, expõem-se conflitos sociais e interiores que derivam da necessidade de integração e da busca por uma identidade. Esse pano de fundo, que contribui para a formulação de hipóteses sobre o desaparecimento de Jennifer, acrescenta uma camada de sentido ao texto que é, de facto, a principal. Na sua busca por Jennifer, Mallory vai estabelecendo contactos com várias pessoas, amigas e ex-amigas. Vai tendo conflitos familiares. Vai, nestas situações, desvendando ações e atitudes do passado, suas e dos outros, e reposicionando juízos e valores sobre si e os outros, no presente. Há um preço de traição ou indiferença para nos sentirmos integrados? Sermos populares obriga-nos a mudar atitudes, gostos, relações? Há forma de reparar o sofrimento que infligimos aos outros? Estas e outras perguntas são, na verdade, feitas pelo leitor, esperando que Mallory responda. A algumas responderá diretamente, a outras implicitamente, a outras não responderá. E Jennifer Chan?