O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 7 Abril 2021

A geração marginal do Brasil
A Companhia das Letras reedita 26 Poetas Hoje, obra fundamental da poesia brasileira da segunda metade do século XX, e publica semanalmente depoimentos com os poetas que integraram a antologia.

Em 1976, em plena ditadura militar no Brasil, Heloisa Buarque de Hollanda organiza uma antologia poética que causaria furor no meio cultural. 26 Poetas Hoje reúne uma série de poetas que publicavam à margem das editoras estabelecidas, em pequenas tiragens ou edições artesanais, muitas vezes vendendo os livros em bares, espaços culturais e à entrada dos cinemas. Conhecido como a geração mimeógrafo, ou a geração marginal, este grupo heterogéneo partilhava uma liberdade na escrita e uma vontade de experimentação que não eram comuns na época e na realidade brasileira. Entre os autores, contavam-se Ana Cristina César, Antonio Carlos de Brito (Cacaso), Torquato Neto, Waly Salomão e Leila Miccolis, entre outros. 

O livro acabou, mais tarde, por se tornar uma referência da poesia brasileira. Agora, a Companhia das Letras volta a editá-lo, disponibilizando-o a novas gerações de leitores. No blog da editora, publicam-se semanalmente depoimentos de alguns dos poetas e de outros envolvidos na criação deste livro, testemunhos fundamentais para se conhecer a história da poesia no século XX brasileiro. Num desses testemunhos, Luís Olavo Fontes partilha a sua memória do impacto que teve o lançamento de 26 Poetas Hoje:

«Entretanto, apesar dos percalços, o livro se tornou uma referência sobre a poesia dos anos 1970. As reações foram controversas: alguns aplaudiram o esplêndido trabalho da Heloisa, outros como Affonso Romano de Sant’Anna odiaram a ideia, apesar de conter tantos alunos dele – eu, Ana Cristina Cesar, Geraldinho Carneiro, João Carlos Pádua – e até professores, caso do Cacaso, já que ele era o Diretor do Departamento de Letras da PUC onde estudávamos. Affonso chegou a publicar um artigo na prestigiada revista Veja com o título de “Os Sórdidos”, em que nos definia sem maiores pruridos como “lixeratura”. Rimos muito e adoramos a precisão do neologismo.»

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