Editorial 1 Setembro 2021

A cultura salvou-nos, agora é a nossa vez de salvá-la

Passados cerca de 20 meses do início da pandemia, e longe ainda do seu fim, aprendemos a conviver com as limitações que nos impôs. Governos e cidadãos, alguns mais, outros nem tanto, encontraram maneiras para que a vida voltasse a acontecer fora de casa. Ainda de forma tímida e controlada, voltaram os concertos, os encontros literários, as obras de teatro, as exposições, mostras, etc. Melhor dito, essas atividades voltaram – estão a voltar – a acontecer de forma presencial, porque durante os meses mais duros da pandemia não só não desapareceram, como foram a tábua de salvação para muitos de nós.

No mês passado, em Lanzarote, na Casa José Saramago, o Presidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, participou num ato preparatório para as comemorações do centenário do escritor. Ao abrir a sessão, a presidenta da FJS, Pilar del Río, reivindicou que a sociedade civil olhe para aqueles que, através da cultura, nos ajudaram a suportar os confinamentos. “Vivíamos atentos à televisão, que nos informava e permitia respirar: programas especiais, séries que tornavam mais suportável o temor quotidiano. Ouvimos música, lemos livros, visitámos virtualmente exposições, vimos filmes.” A cultura, que nos salvou durante esse momento mais difícil, agora tem problemas para se sustentar, disse. “É como se, agora, que estamos a sair do túnel, já não precisássemos de concertos, dos livros e dos filmes, como se a cultura já não fosse um bem essencial, como a saúde, os cuidados e o pão nosso de cada dia.”

Quem vai salvar aqueles que nos salvaram? De outra forma, como poderemos ajudar aqueles que, com a sua arte, palavras, voz e gestos, nos estenderam uma mão no momento em que precisámos de companhia e conforto?

É preciso salvar a cultura, para que ela continue a salvar-nos. É preciso olhar para os profissionais da cultura, artistas e todos aqueles que fazem com que a cultura aconteça, com atenção, respeito e gratidão. E encontrar formas de reconhecimento e remuneração condignas após tantos meses em que estiveram impossibilitados de trabalhar.