A Colher
Sandra Siemens
Bea Lozano
Fábula
Tradução de Susana Cardoso Ferreira
O que fazer para preservar um objeto que representa a memória? Quando a protagonista da narrativa manifesta a intenção de usar uma determinada colher para comer a sopa, ou escavar a terra, ou ainda tocar música, os adultos proíbem-na. O argumento é repetidamente usado: essa colher não serve para o propósito. Mas a colher, única na forma, partilha a mesma gaveta com todas as outras, as que não estão impedidas de servirem propósitos vários, dependendo da imaginação e vontade da menina.
Ora, a justificação só chega depois: a colher é uma herança da bisavó: o único artefacto que se salvou da guerra, quando a avó partiu. E a menina encara um desafio: quando chegar a sua vez de herdar a colher, que lugar vai encontrar para ela?
Sem se deter propriamente no conflito da criança ou na responsabilidade de fazer cumprir uma memória, a narrativa fecha com a solução encontrada pela protagonista. Há um vazio que cada leitor preenche com os seus juízos, os seus valores e a sua própria relação com a memória. Sendo a escritora argentina, o contexto a partir do qual tece esta história será próximo e haverá, muito provavelmente, famílias e outras comunidades que o relacionarão com histórias suas ou conhecidas.