O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 14 Abril 2025

A música argentina contra Milei
A canção de protesto nunca deixou de estar presente na Argentina, dos tempos da ditadura aos destroços mais recentes de governos neo-liberais. Agora, com Javier Milei no governo, o mundo musical argentino agita-se e ergue a sua voz, repartida em géneros e sonoridades diversas, mas unida num protesto comum.

Na revista Buala, um longo artigo de Pedro Cardoso olha atentamente para as múltiplas manifestações musicais que, a Argentina, têm demonstrado a sua oposição – e resistência – ao governo de Javier Milei. «Explosão musical contra a motosserra de Milei» toma o título emprestado de um outro artigo, este de Daniel Huergo (no diário El Salto), e percorre bandas, intérpretes, concertos, discos e projectos musicais colectivos: «Como nas décadas tristes que ainda sangram em feridas abertas, a música na Argentina une quem resiste. Desde o dia 1 de Milei, este coro tem juntado vozes novas, antigas. Inesperadas, muitas delas.»

Esta muralha musical que se vai erguendo contra as políticas de Milei reúne veteranos da música de protesto, como os Las Manos de Fillipi, rappers como Dillom ou Wos, projectos que misturam rap e reggaeton, como Choco, o cantor folk Peteco Carabajal e até vozes muito mais consensuais, e desde sempre ligadas à indústria musical mais mainstream, como María Becerra e Lali Espósito. Como escreve Pedro Cardoso, «cientes de que há um passado que os sustenta, tal como “Sr. Cobranza” [canção dos anos 90 da banda Las Manos de Fillipi], os manifestantes recuperam ainda as velhas, velhinhas músicas dos tempos da ditadura argentina ou dos períodos posteriores de convulsão social e política. Canções de protesto voltam a ecoar, ressignificadas, mas de um simbolismo potente. “Juan Represión” (1974), de Charly Garcia, é uma das mais tocadas. Mas também há “Los dinosaurios” (1983), do mesmo Charly; “Como la cigarra” (1973), de María Elena Walsh, na voz da também icónica Mercedes Sosa; “Para el pueblo lo que es del pueblo” (1973), canção de Piero; “Sobreviviendo” (1984), de Victor Heredia; “Nunca más” (2005), de Teresa Parodi; ou “Desapariciones” (1992), de Los Fabulosos Cadillacs.». A cantiga continua a ser uma arma.

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