Um travão na extrema-direita
Uma carta que partiu da urgência sentida por artistas e directores artísticos de diferentes países europeus está agora à subscrição geral, tentando travar o extremismo e as ameaças à liberdade artística que vão minando a criação europeia.
«A liberdade artística e a autonomia das organizações culturais estão a ser atacadas na Europa. Desde proibições a despedimentos, passando por perturbações violentas em espectáculos como o do Teatro Nacional Ivan Vazov, em Sófia, estamos a assistir ao derrube de todos os limites.» Assim começa o texto colectivo onde mais de duas centenas de artistas, programadores, técnicos e responsáveis por estruturas e organizações culturais de toda a Europa alertam para o avanço da extrema-direita e de políticas censórias, condicionadoras do trabalho artístico e, em última instância, ameaçadoras para uma ideia de Europa diversa, curiosa, capaz de acolher e questionar o mundo sem violências ou exclusões.
Encabeçada por Milo Rau e Artemis Vakianis, directores do Wiener Festwochen, um dos mais influentes festivais europeus de artes performativas, e assinada por trabalhadores da área da cultura de diferentes países (entre eles, e em Portugal, o director artístico do Teatro Nacional Dona Maria II, Pedro Penim, o administrador do Centro Cultural de Belém, Delfim Sardo, ou o director artístico do Teatro do Bairro Alto, Francisco Frazão), a carta dirige-se aos deputados e deputadas do Parlamento Europeu, pedindo medidas para acabar com as ameaças à liberdade artística e de expressão e para reverter a situação que se alastra na Europa: «Os ataques à liberdade artística atingiriam um nível quase absurdo em vários Estados-membros: no Teatro Nacional de Sófia, uma peça com mais de um século, passada numa Bulgária fictícia, foi representada perante uma sala vazia na noite de estreia, devido a ataques de círculos ultra-nacionalistas que impediram os espectadores de entrarem no edifício do teatro. Na Áustria, o Partido da Liberdade (FPÖ), da direita nacionalista, ameaça cortar o financiamento à cultura “woke” – o que significa basicamente toda a cultura que vá para além de organizações musicais de carácter local –, ao passo que o Partido da Liberdade de Geert Wilders, nos Países Baixos, a União Nacional, em França, e a Alternativa para a Democracia (AfD), na Alemanha, estão a impulsionar cortes radicais no financiamento de todas as instituições culturais que não são “tradicionais” e “nacionais”».
Depois das primeiras subscrições, que reuniram mais de 200 nomes de pessoas directamente ligadas à área artística, a carta pode agora ser assinada por qualquer cidadã ou cidadão.