Lisboa africana
Um percurso pela capital portuguesa a partir da herança africana que tanto contribui para a sua identidade.
A Agência Lusa foi conhecer o roteiro Espaços da Presença Africana em Lisboa, um percurso promovido pela associação Batoto Yetu Portugal, que trabalha com jovens e crianças interessados na cultura africana. O resultado é uma reportagem que acompanha algumas das paragens essenciais deste roteiro, destacando as pessoas de origem africana que ajudaram a definir a cultura e a identidade lisboetas, bem como uma série de episódios poucas vezes referidos nos livros de história onde é possível conhecer a vida de tantas pessoas escravizadas pela coroa portuguesa e trazidas à força dos territórios colonizados: «Djuzé Neves, dirigente da associação Batoto Yetu Portugal, é cicerone nesta visita e contou à Lusa que a estação do Parque, dedicada à Declaração Universal dos Direitos Humanos, tem inúmeras referências à cultura e à presença africana em Portugal, precisamente porque as autoras (Françoise Schein e Federica Mata) identificaram a sua falta e sentiram a necessidade de as colocar mais visíveis. “Há aqui referências a esse tráfico transatlântico”, iniciado em 1444, quando chegou a Lagos, no Algarve, o primeiro carregamento de escravizados, oriundos do Golfo da Guiné, mas também “à espiritualidade africana”, com imagens de sereias negras. “Ficamos com a dimensão do volume de pessoas que foram trazidas à força nos barcos, que é algo que raramente vimos pela cidade”, afirmou.» A estas juntam-se histórias como a da Severa, nome maior do fado português, ela própria com origens africanas, ou do médico Dr. Sousa Martins, um mestiço nascido em Alhandra cuja fama se espalhou pelo país. E juntam-se igualmente as histórias de tantas discriminações que se foram cimentando como gestos banais no quotidiano de uma cidade que sempre teve muitas origens entre os seus habitantes. Conhecer tudo isto é um modo de contrariar essas discriminações e reconhecer as tantas camadas que ajudam a erguer um lugar.