Tudo tão grande
Isabel Minhós Martins
Bernardo P. Carvalho
Planeta Tangerina
Um poema que cresce em ritmo. Uma rima cruzada entre páginas. Dísticos que afinal são quadras. Uma urgência de seguir lendo. Um espaço que transborda dos limites do livro. Um horizonte que se vê, se pressente, mas nunca se alcança. Os sentidos a sintonizarem-se com o calor do sol, a frescura da água, o peso que não se sente ou o impacto do mergulho, o vento que acelera ou atrasa o corpo, o ruído de folhas, o chilrear dos bandos…
Há verão neste álbum. Há férias grandes no poema. Há tempo por todos os lados. E uma dimensão avassaladora de rios, montanhas, cursos de água, estradas ou trilhos, cores que se enformam e contaminam num movimento maior.
O título e o subtítulo (canção cada vez maior) podem ser intenção temática mas resultam em efeito de leitura. Cumpre-se uma retórica de salto, para lá da descrição de uma recordação organizada ou de um momento ideal. As férias grandes, o verão, são aqui o que cada um ler, e chegam diretamente a uma memória prévia à organização discursiva. Recuperando o conceito ‘lire par coeur’, é um álbum que se liga de pronto à emoção.
No final, um grande plano e uma associação: se o tempo cresce no verão, também nós (os que estão a crescer, e talvez também os que já não crescem fisicamente) crescemos mais. Crescer depende então de dois eixos, o da dimensão exterior dos dias longos e da natureza vibrante em desenvolvimento, e o da dimensão interior da intensidade da experiência, seja ela contemplativa, sensorial, emocional. Há um elogio desta simbiose, plasmado no texto e na ilustração de forma complementar. Imaginar o texto sem as composições curvas, as gradações e sobreposições de cor parece empobrecê-lo. O mesmo acontece ao invés. Sem o texto a imagem perde parte da sua intenção. Juntos criam esta dimensão paralela onde, enquanto duram leituras e releituras, todos podemos imergir.