Estante Andreia Brites 27 Agosto 2022

Uma pedra cai do céu
Jim Klassen
Orfeu Negro
Tradução de Rui Lopes

O humor de Jon Klassen regressa em grande estilo. Numa narrativa por capítulos, cada episódio oscila entre o nonsense e a crítica ácida ao egocentrismo desmedido.

A icónica tartaruga, que o leitor reconhece de álbuns anteriores, sedenta de atenção e de reconhecimento, consegue provocar ruído e interferir com a paz de uma toupeira e de uma cobra que entabulam uma relação naturalmente cúmplice. Por outro lado, a sua atitude de profunda incompreensão do olhar do outro acaba por salvá-la de um perigo fulminante. Aqui reside o paradoxo que Klassen explora em pequenos momentos de grande potencial cinematográfico. Tudo é expressivo e subtil: do dito ao silêncio, dos olhares à ausência de boca das personagens.

Outro elemento essencial para o efeito de humor desconcertante deriva da lentidão de todos os episódios, protagonizados ora pelo movimento da tartaruga ora pelo desfrutar contemplativo da toupeira e da cobra, entre sono, imaginação e um pôr do sol. Acresce que a justificação para o que acontece de extraordinário é também profundamente inverosímil. Ou seja: tudo bate certo.

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