Editorial 5 Abril 2022

Um tesouro de José Saramago guardado pelo Instituto Cervantes

Em 2006, quando a Câmara Municipal de Madrid escolheu o edifício do antigo Banco Espanhol do Rio da Prata como sede do Instituto Cervantes, a direção da instituição viu-se num dilema: o que fazer com o enorme cofre localizado no subsolo? Construído no começo do século passado, o prédio localizado na rua de Alcalá, uma das mais antigas e prestigiadas da cidade, é património protegido – o que significa que não pode sofrer qualquer alteração arquitetónica. Foi então que César Antonio Molina, diretor do Cervantes à época, teve a ideia de usar o espaço que um dia guardara fortunas para proteger a cultura. E assim nasceu a Caixa das Letras do Instituto Cervantes, onde personalidades da cultura depositam parte do seu legado no cofre da entidade pelo tempo que quiserem. O argentino Juan Gelman, por exemplo, levou um pergaminho e um poema inédito de sua autoria que só será tornado público no dia 3 de maio (aniversário do escritor) de 2050. Ana Maria Matute, romancista espanhola, entregou um exemplar da primeira edição de um dos seus livros mais conhecidos, Olvidado rey Gudú, e determinou que seja resgatado ao fim de 20 anos.

No dia 25 de Abril, a presidenta da Fundação José Saramago (FJS), Pilar del Río, depositará na Caixa das Letras alguns “tesouros” de José Saramago. O escritor será o primeiro português e o segundo autor lusófono a receber tal distinção – em 2021 a brasileira Nelida Piñon ocupou a gaveta n°1261 do cofre com uma primeira edição de um romance seu, o original de outro e um exemplar da sua fotobiografia.

A simbólica data do aniversário da Revolução de 1974 foi escolhida para celebrar a união entre duas culturas, dois países, e também duas instituições – no mês de março foi assinado um convénio de colaboração entre a FJS e o Instituto Cervantes. Só nesse mesmo dia será revelado o conteúdo que será guardado neste cofre cultural e também a data em que poderá ser reaberta a gaveta de José Saramago na Caixa das Letras.