Seu nome era Gal
Voz maior do Brasil, Gal Costa morreu no passado dia 9 de Novembro, deixando um sentimento geral de orfandade que não contradiz a convicção de um futuro onde a sua voz perdurará.
Depois de noticiada a morte de Gal Costa, aos 77 anos, os textos sobre a cantora foram-se multiplicando entre imprensa e internet. Houve obituários, como manda o respeito pelos que partem, mas houve sobretudo uma constatação de permanência que é muito mais do que a rotineira aceitação da durabilidade da memória.
Na revista brasileira Quatro Cinco Um, Pedro Duarte assina «Gal, Gracinha, tropical, fatal», um texto que percorre a carreira musical de Gal Costa, assinalando os muitos impactos que foi tendo na história contemporânea do Brasil, na arte e na cultura, e acima de tudo na existência individual feita partilha, portanto, colectiva: «Pois não se trata só de lamentar a ausência daqui pra frente da maior cantora do Brasil, segundo o veredicto que Caetano deu quando a conheceu aos dezoito anos, ainda na Bahia. Trata-se de sentir a dor de um canto de nossas vidas que se foi, pois o canto de Gal — em suas variações surpreendentes de tom e repertório, de Roberto Carlos e Jorge Ben a Criolo, Mallu Magalhães e Marília Mendonça — esteve por toda parte desde os anos 60.»
Depois da morte de Gal Costa, escreve o autor que passou por um bar em Copacabana, onde a habitual roda de samba estava instalada, e esperou que alguém avançasse para a interpretação de uma das muitas canções a que Gal deu voz e eternidade. Tal não aconteceu, e a conclusão é imediata: «Pensei que a Gal está tão em nós que é assim. Não vai se perder ou desaparecer, mesmo que não toque mais.»