Rogério de Carvalho
Uma entrevista que percorre o trabalho e o legado do encenador recentemente falecido.
Nascido em Gabela, Angola, em 1936, Rogério de Carvalho encenou peças dos mais diversos autores e colaborou com companhias e projectos teatrais em Portugal ao longo de seis décadas. Morreu neste mês de Setembro, aos 88 anos, deixando marcas profundamente relevantes em actores, técnicos, companhias, grupos independentes e espectadores. No site Buala, republica-se uma entrevista que Marta Lança lhe fez em 2015 (originalmente publicada na revista Austral). Um excerto:
«O Rogério pega num texto de autor, retém uma certa atmosfera e torna-o contemporâneo. Como faz esse trabalho dramatúrgico? Como foi com os Negros?
Interesso-me por determinados autores. Na altura estava interessado em Genet. É uma peça que reflecte uma dialéctica que leva o actor e as personagens a uma interpretação onde estão os acontecimentos do nosso tempo, o que somos, o que é a pessoa humana. O teatro tem o seu próprio mundo. Infelizes os actores que pensam que estão a passar uma mensagem.
Ou que são representantes de algo.
Tudo o que se faz em teatro é fictício, e a ficção identifica-se com a artificialidade. O artificial hoje, na medida em que o teatro procura ter o seu mundo, já não cria aquela ilusão de uma mensagem homenageante, uma linguagem de favorecimento do poder ou do anti-poder.»