Ainda soluçando, a mulher do médico saiu da cama, abraçou-se à rapariga, Não é nada, foi uma tristeza que me entrou de repente, disse, Se a senhora, que é tão forte, está a desanimar, então é porque não temos mesmo salvação, queixou-se a rapariga. Mais calma, a mulher do médico pensava, olhando-a de frente, Já quase não se lhe notam vestígios da conjuntivite, que pena não poder dizer-lho, ela ficaria contente. Provavelmente, sim, ficaria contente, embora um tal contentamento fosse absurdo, não tanto por estar ela cega, mas porque toda a gente ali o estava também, de que servirá ter os olhos límpidos, e belos, como estes são, se não há ninguém para os ver.
Ensaio sobre a Cegueira