O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 7 Junho 2021
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Pandemia e desigualdade
Uma reflexão de Judith Butler sobre os desequilíbrios sócio-económicos e as suas particularidades históricas, geográficas, identitárias, para ajudar a pensar o mundo em tempos de pandemia.

Na internet, os textos circulam, traduzem-se, partilham-se. Cumprindo as boas regras de não deixar que a autoria se perca, atribuindo-lhe os devidos créditos, o blog brasileiro Boitempo disponibilizou recentemente um texto de Judith Butler, originalmente publicado na revista Time e traduzido para português por Daniel Pavan para o site A Terra É Redonda, sobre a pandemia que vivemos há mais de um ano. Numa reflexão sobre o modo como as desigualdades sociais, culturais e económicas definem a vivência desta pandemia, a filósofa e crítica norte-americana escreve:

«O mundo compartilhado não é igualmente partilhado. O filósofo francês Jacques Rancière se refere à “parte dos sem parte” – aqueles cuja participação no comum não é possível, nunca foi, ou não mais será. Afinal, não se pode possuir parcelas apenas de empresas e recursos, mas também de uma noção de comum, uma sensação de pertencer igualitariamente ao mundo, uma confiança de que ele está organizado para assegurar o florescimento de todos. A pandemia iluminou e intensificou desigualdades raciais e econômicas ao mesmo tempo que aguçou os sentidos globais de nossas obrigações com os outros e com o planeta. Há um movimento com direção mundial, baseado em uma nova noção de mortalidade e interdependência. A experiência da finitude está associada a uma aguçada percepção das desigualdades: quem morre prematuramente e por quê? E para quem estão ausentes a infraestrutura ou a promessa social de continuidade da vida?»

Numa altura em que a vacinação massiva contra a COVID-19 parece ser a única forma eficaz de travar a pandemia, os níveis de vacinação nos países mais ricos vão subindo em flecha e os países mais pobres vêem-se a braços com dificuldades incontornáveis para vacinar as suas populações – as mesmas que, perante novas vagas da doença, são as primeiras a perder o acesso a cuidados de saúde. O modo como o vírus se espalhou pelo mundo foi, claramente, um processo igualitário, mas foi notório desde o início que tudo o resto não o seria.

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