O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 26 Setembro 2022

Os meandros da edição de livros
Um ensaio de Safaa Dib, antiga editora do Grupo Saída de Emergência, para conhecer as mudanças que vieram para ficar no mercado editorial e livreiro português.

Na revista Setenta e Quatro, Safaa Dib assina um longo ensaio sobre o mundo da edição de livros, focando-se em Portugal e nas mudanças trazidas pelos processos de concentração editorial, com a criação de grandes grupos de editoras, como a Leya e o grupo Porto Editora, e a redefinição de equilíbrios comerciais, modos de trabalho e ocupação de espaços livreiros. Um excerto:

«O que distinguia o mundo editorial nos anos anteriores às concentrações era a natureza da atividade do editor que caminhava numa delicada corda bamba entre o lado intelectual e cultural e o lado mais comercial e contabilístico. O livro não era visto apenas como um produto, mas um objeto aprimorado, que tinha passado por uma seleção cuidadosa e com conteúdo de qualidade. O editor da velha guarda via-se no papel de agente cultural respeitado e prestigiado entre os seus pares, sendo a maioria homens. Estavam todos cientes de que o negócio implicava alguma perda de dinheiro, equilibrada com o investimento em outro tipo de livros mais comerciais.

A concentração das editoras, transformadas em chancelas no âmbito dos grupos editoriais, alterou o papel do livro: passou a ser visto como veículo de entretenimento ou livro de atualidade (livros de não-ficção de cariz político, gastronómico, social ou psicológico) ou simplesmente como um best-seller, independentemente do seu género. E desde então cada livro tem de alcançar um determinado objetivo de vendas estipulado em folhas de cálculo. Se a obra fracassasse e não gerasse lucro, esse mau histórico pesaria na avaliação do próximo projeto de publicação do autor.»

→ setentaequatro.pt