Os meandros da edição de livros
Um ensaio de Safaa Dib, antiga editora do Grupo Saída de Emergência, para conhecer as mudanças que vieram para ficar no mercado editorial e livreiro português.
Na revista Setenta e Quatro, Safaa Dib assina um longo ensaio sobre o mundo da edição de livros, focando-se em Portugal e nas mudanças trazidas pelos processos de concentração editorial, com a criação de grandes grupos de editoras, como a Leya e o grupo Porto Editora, e a redefinição de equilíbrios comerciais, modos de trabalho e ocupação de espaços livreiros. Um excerto:
«O que distinguia o mundo editorial nos anos anteriores às concentrações era a natureza da atividade do editor que caminhava numa delicada corda bamba entre o lado intelectual e cultural e o lado mais comercial e contabilístico. O livro não era visto apenas como um produto, mas um objeto aprimorado, que tinha passado por uma seleção cuidadosa e com conteúdo de qualidade. O editor da velha guarda via-se no papel de agente cultural respeitado e prestigiado entre os seus pares, sendo a maioria homens. Estavam todos cientes de que o negócio implicava alguma perda de dinheiro, equilibrada com o investimento em outro tipo de livros mais comerciais.
A concentração das editoras, transformadas em chancelas no âmbito dos grupos editoriais, alterou o papel do livro: passou a ser visto como veículo de entretenimento ou livro de atualidade (livros de não-ficção de cariz político, gastronómico, social ou psicológico) ou simplesmente como um best-seller, independentemente do seu género. E desde então cada livro tem de alcançar um determinado objetivo de vendas estipulado em folhas de cálculo. Se a obra fracassasse e não gerasse lucro, esse mau histórico pesaria na avaliação do próximo projeto de publicação do autor.»