O tanto que devemos a Godard
Morreu Jean-Luc Godard e a imprensa desdobrou-se em obituários e longos perfis que ajudarão a fixar a memória do mestre. Aqui, propomos um recuo no tempo para uma leitura antes da inevitável hagiografia pós-morte.
Em 2007, Histoire(s) du cinéma, de Jean-Luc Godard, era publicado em DVD e o Le Monde Diplomatique, na voz do escritor e crítico Guy Scarpetta, traçava o percurso da obra do cineasta e da sua recepção pública. Na morte do realizador francês que mudou para sempre a face do cinema, o Le Monde Diplomatique – edição portuguesa recupera esse artigo, abrindo os seus arquivos digitais.
Eis um pequeníssimo excerto, abrindo o apetite para a leitura integral do texto de Guy Scarpetta no site do jornal:
«Existe até uma lenda em torno de Godard, atribuindo-lhe um estatuto quase mítico. Foi ele que, nos anos 60, apelou a que os técnicos da Confederação Geral do Trabalho (CGT) sabotassem as intervenções televisivas do general de Gaulle. Foi ele que, no momento em que o poder gaullista quis despedir Henri Langlois da Cinemateca francesa, de que era o criador e animador, tomou a dianteira de uma espectacular contra-ofensiva, e interpelou André Malraux a partir de um “país” que o então ministro da Cultura, dizia ele, abandonara: “A França Livre”. (…)
Apesar destes feitos e desta lenda, o preconceito dominante a propósito de Godard pretende fazer crer que as suas grandes obras seriam as dos anos 60 (O Acossado, O Desprezo e Pedro, o louco), sendo que após essa fase a sua veia criativa teria ficado esgotada, levando-o a partir daí para realizações às apalpadelas, mal acabadas, sofríveis…»