O mito dos que “vivem à conta do estado”
O discurso que associa desprezo pelos mais desfavorecidos e xenofobia tem vindo a crescer no espaço político. No Setenta e Quatro, uma reportagem ajuda a desfazer mitos em torno do Rendimento Social de Inserção, para percebermos melhor de que falamos quando falamos de apoios do Estado e de quem deles beneficia.
No jornal digital Setenta e Quatro, uma reportagem de Rafaela Cortez olha atentamente para o Rendimento Social de Inserção (RSI), uma medida de apoio a pessoas e famílias em situação de pobreza que pretende mitigar essa pobreza, procurando assegurar uma maior igualdade de direitos: «Falamos de 119,07€ mensais, o Rendimento Social de Inserção, o argumento polémico que tanta desinformação tem criado. O Setenta e Quatro foi falar com especialistas sobre um dos tópicos que a direita mais gosta de referir como “abuso” do sistema democrático. Voltamos a lembrar: são 119,07€ mensais.»
A reportagem tem alguns meses, mas continua a ser imprescindível conhecer o tema, sobretudo quando o debate político ameaça abrir espaços cada vez maiores para discursos xenófobos e anti-sociais. Um excerto do trabalho do Setenta e Quatro ilustra de modo claro a importância do assunto, por contraste com o baixíssimo número de pessoas que beneficiam, de facto, do RSI: «É raro encontrar quem nunca tenha ouvido uma versão semelhante a esta história. Há sempre relatos de um vizinho com um Mercedes topo de gama, uma piscina nas traseiras de uma vivenda ou moradia, um cheque de RSI capaz de envergonhar um trabalhador a ganhar o dobro do salário médio. Será possível alguém receber 1200 euros por mês de RSI? Para sermos justos, é realmente possível. O valor atribuído a uma família depende da composição do agregado familiar. Além de cada titular (a pessoa que encabeça a candidatura ao RSI), que pode receber, no máximo,189,66€, a Segurança Social atribui mais 70% desse valor por cada adulto (132,76€), e 50% por cada menor (94,83€). E é aqui que a matemática se torna anedótica. É possível fazer muitas combinações para chegar aos tais 1200€ por mês. Contudo, assumindo, por exemplo, a família Lopes — um casal adulto e várias crianças —, esta teria de ter, no mínimo, 10 filhos. O valor total recebido pela família Lopes seria 1270,72€ por mês.» Em duas partes, ambas disponíveis para leitura integral, esta reportagem desmonta mitos e preconceitos propagados pela extrema-direita e analisa os números e as estatísticas, bem como a história do RSI – que começou por se chamar Rendimento Mínimo Garantido –, sem deixar de acompanhar algumas histórias que nos ajudam a perceber como funciona e que impactos tem esta medida de apoio estatal em Portugal. Quanto aos discursos xenófobos que se propagam, e que associam o RSI ao desfalque do Estado e este às pessoas ciganas, não é demais lembrar que dados recentes da Segurança Social esclareceram que, de entre os beneficiários do RSI, apenas 3,8% são cidadãos de etnia cigana. Já é altura de olharmos para os factos e deixarmos de escutar as ilusões demagógicas de quem procura o poder a qualquer custo.
→ OS MUNDOS E FUNDOS DO RSI (I): ÓDIOS DE ESTIMAÇÃO
→ OS MUNDOS E FUNDOS DO RSI (II): SAIR DO POÇO