O herói do autocarro noturno
Onjali Q. Raúf
Booksmile
Tradução de Dulce Afonso
Hector é um rapaz de dez anos, revoltado com os adultos e desinteressado pela escola. Interessam-lhe os amigos que o admiram e a evasão dos jogos de computador. Na primeira metade da novela, o leitor acompanha o protagonista no seu périplo de ações violentas e desrespeitadoras de colegas, professores e um homem velho que vive no parque do bairro. Para além disso vai tendo acesso a alguns dos pensamentos, juízos de valor e emoções da criança cujo discurso pouco se adequa à idade. Atente-se, a eventual inverosimilhança situa-se mais ao nível do discurso que da ação, por muito que o adulto leitor possa tecer os seus próprios juízos a respeito. Como novela de transformação, serão os acontecimentos relativos ao velho que alterarão o comportamento de Hector, no início sem que se dê propriamente conta. Há uma violência explícita no livro que provoca reações, bem como um enquadramento familiar bastante claro como origem do problema. O que haverá de menos é um tecido literário que convoque uma outra dimensão emocional do leitor, uma imagética, um sentido estético. Sem essa dimensão o livro cumpre mas a intenção sobrepõe-se ao texto.