O cesar fogo que não chega
Entrevista com Nabil Abuznaid, chefe da missão diplomática da Autoridade Palestiniana em Portugal.
No Setenta e Quatro, uma entrevista com o chefe da missão diplomática da Autoridade Palestiniana em Portugal, Nabil Abuznaid, conduzida pelo jornalista João Biscaia, aborda a ocupação dos territórios palestinianos pelo exército israelita, os dois pesos e duas medidas de alguma comunicação social relativamente ao que se passa na Faixa de Gaza e os crimes de guerra que vêm sendo cometidos desde que o estado israelita começou a bombardear Gaza, onde milhares de pessoas permanecem se poderem sair: «O que está a acontecer em Gaza é um genocídio. Estão a fazer guerra a todos os seres humanos, a todos os civis: homens, mulheres, crianças, velhos. Não há lugares seguros para as matanças que temos visto: mesquitas, igrejas e hospitais estão a ser bombardeados pelos israelitas. Tudo isto é uma violação de direitos humanos e do Direito Internacional Humanitário que afirma que a vida dos civis deve ser protegida em caso de guerra. De acordo com o direito internacional, deslocar pessoas das suas casas também não é aceitável, e temos visto Israel a tentar deslocar forçosamente as populações do norte para o sul de Gaza. Cortar o abastecimento de eletricidade e água, fechar as fronteiras e não deixar entrar qualquer tipo de provisões médicas é desumano e inaceitável.»
Sobre a discussão pública e internacional que tem vindo a acontecer, com algumas vozes forçando a ligação entre solidariedade com a Palestina e o anti-semitismo, Nabil Abuznaid lembra alguns dados relevantes: «Em primeiro lugar, nós, os palestinos, somos um povo semítico. Depois, a nossa luta não tem nada que ver com o judaísmo. O nosso problema é a ocupação. Essas manifestações que acontecem por todo o mundo pedem um fim para a ocupação, não apelam ao ódio. Aliás, muitos judeus estão a manifestar-se contra a ocupação israelita. Em Washington DC, capital dos Estados Unidos, cerca de 300 judeus foram detidos enquanto protestavam pacificamente no Capitólio. É possível que muitos deles apoiem a existência de Israel como Estado e, ao mesmo tempo, sejam contra a ocupação. Além disso, Israel sempre usou o antissemitismo para desacreditar qualquer crítica. O presidente norte-americano Jimmy Carter, que mediou os processos de paz entre o Egito e Israel e conseguiu um acordo de paz entre os dois países, foi chamado antissemita depois de escrever o seu livro Palestine: Peace Not Apartheid. Agora é a vez de António Guterres ser chamado de antissemita.»