Estante Andreia Brites 3 Junho 2025

Minha Guia, meu Capitão
Gonzalo Moure
Maria Girón

Kalandraka 
Tradução de Elisabete Ramos

Uma criança vai para a escola pela mão do pai. O que encontra pelo caminho é-lhe apresentado pelas palavras do pai. O caminho é de descoberta, desafios, jogos ao serviço da imaginação e da adivinhação. Desde logo, o leitor fica a saber, pela ilustração e pelo texto, que se trata de um homem cego e de uma menina quase cega. A apresentação explícita desta situação cumpre a intenção de levar o leitor a conhecer a percepção do mundo por alguém que não vê. Trata-se de desmistificar uma realidade que é estranha para a maioria dos leitores. Porém, esta distância que se estabelece como ponto de partida esbate-se pela relação cúmplice e profundamente afetiva entre pai e filha. O amor que os une pode ser reconhecido por qualquer leitor e esse é o mérito deste álbum. A singeleza, a delicadeza e a alegria manifestadas pelas personagens num caminho que é de aprendizagem e segurança para a criança são características basilares numa relação filial e fazem da relação entre este pai e esta filha um modelo. A cegueira é assim apresentada apenas como condição e não como limite. A ilustração retrata vários momentos do caminho, os passeios, a estrada e a passadeira, o muro junto ao mar, as pessoas com quem se cruzam, o interior da sua casa, a entrada da escola. As cores são maioritariamente suaves e sem traço de contorno. Há animais inusitados que os acompanham e plantas que povoam o espaço. A selva que marca presença na ilustração também contrária a percepção inicial que pode ser dada ao leitor, pelas primeiras palavras da menina, a narradora: “A caminho da escola, o pai e eu avançamos por uma selva de luzes e sombras. E de sons.” Depois, tudo se amplia e ganha mais sentidos. Deles se tece cuidadosamente esta narrativa.

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