Jerónimo e Josefa
José Saramago
João Fazenda
Tcharan
Neste excerto retirado do Discurso do Nobel, Saramago descreve uma memória duplamente afetiva e ideológica dos avós. O esforço físico, a auto-disciplina como resposta à necessidade de sobrevivência, a vida espartana caminham de mão dada com uma poética longe do paternalismo hipócrita que elogia a pobreza. Os episódios mais icónicos têm sido amplamente referidos: o dos bácoros que sobrevivem nas noites frias na cama do casal, o da despedida das árvores pelo avô Jerónimo e a frase da avó Josefa ao observar o céu estrelado.
Não é um texto para a infância, é um texto sobre a preciosa herança que a memória nos permite compor.
João Fazenda opta por uma alternância entre o dia e a noite, alimentando a cadência intimista. Representa ações, gestos e contextos, entre o limite dos espaços de trabalho e rotina e o infinito do espaço envolvente. A dualidade, porém, não se apresenta numa relação antinómica e sim complementar, reiterando um paradoxo existencial identificado pela retórica do texto.