
Filipe Guerra (1948-2025)
Na morte de um tradutor, lembramos a imensa obra que nos deixa, uma espécie de chave sem a qual não acederíamos aos tantos livros que traduziu ou ajudou a traduzir.
Fala-se pouco de quem traduz, essa actividade discreta e afastada do burburinho da promoção e divulgação de livros. Ainda assim, é às tradutoras e tradutores que devemos o acesso a tantos livros que, de outro modo, não teríamos como ler e Filipe Guerra, cuja morte foi notícia no passado dia 7, é um desses incontornáveis criadores de pontes entre idiomas e literaturas.
Nascido em 1948, em Vila Pouca de Aguiar, Filipe Guerra traduziu de várias línguas, mas foi no russo que se fixou, sobretudo a partir de 1994, ano em que passa a dedicar-se em exclusivo à tradução literária a partir desta língua e em parceria com Nina Guerra. A dupla de tradutores foi distinguida, em 2002, com o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores e do Pen-Clube Português pelas traduções das obras de Dostoiévski e de Tchékhov, mas o reconhecimento dos leitores que puderam aceder a livros de Aleksandr Púchkin, Nikolai Gógol, Aleksandr Ostróvski, Fiódor Dostoiévski, Lev Tolstói e Ivan Turguénev, Óssip Mandelstam, Anna Akhmátova, Marina Tsvetáeva, Mikhail Bulgákov ou Vassili Grossman ou Liudmila Petruchévskaia começou muito antes de 2002 e prolongar-se-á enquanto esses livros existirem.

Como se lê na notícia do Jornal Económico a propósito da sua morte, num texto de Ana Pina, Filipe Guerra «fez da tradução literária “a menina dos seus olhos”. Individualmente, tem mais de 40 títulos traduzidos, do francês, do espanhol e do italiano, mas a marca indelével que deixa no universo da tradução literária são os frutos da formidável parceria com Nina Guerra – companheira de vida e de ofício.» Os livros aí estão para o confirmar.