Esperança nas mulheres
Uma das marcas distintivas da obra de José Saramago são as personagens femininas. São elas, normalmente, que conduzem a trama, são as protagonistas da história e que têm o poder de transformar as coisas. «As minhas personagens verdadeiramente fortes, verdadeiramente sólidas são sempre as figuras femininas. Não é porque eu tenha decidido, é porque sai-me assim. Não há nada de premeditado. Provavelmente isso resulta de que a parte da humanidade em que eu ainda tenho esperança é a mulher», disse o escritor ao jornal brasileiro Folha de S. Paulo em 1995.
Nesta edição da Blimunda, para assinalar o Mês da Mulher, recuperamos uma entrevista que José Saramago concedeu à escritora e jornalista Leonor Xavier em 1990, publicada na revista Máxima. A conversa centra-se, sobretudo, nas personagens femininas de Saramago e no fascínio que elas exercem sobre os leitores – e sobre o próprio escritor que as criou. «Eu não encontro qualidades morais masculinas ou femininas, penso que as diferenças se encontram mais no plano da sensibilidade. Ao homem falta em geral algo a que chamamos sensibilidade, eu não falo da emoção ou da lágrima fácil, mas desse modo sensível de entender o mundo que é o da mulher, como a vejo e ponho nos meus livros. A realidade chega à mulher por outras vias que não a da razão. Como a do sentido da maternidade, ela dá-lhe outra dimensão, que o homem não pode ter», diz o autor de personagens inesquecíveis da literatura universal como a Blimunda, do Memorial do Convento, e a Mulher do Médico, de Ensaio sobre a Cegueira.