O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 2 Maio 2025
Espectros de várias estrelas, incluindo o Sol © Wellcome Collection

Ciência na Universidade de Lisboa
Buracos negros, moléculas que se unem como peças de lego, estrelas que já morreram ou métodos para descascar cebola sem chorar, tudo nas páginas da revista Universidade de Lisboa.

O mais recente número da revista Universidade de Lisboa é dedicado à ciência, com particular atenção à que se faz na própria Universidade de Lisboa, sem se fechar nessa instituição. Pelas páginas virtuais da revista passam entrevistas, recensões, artigos de fundo e notícias várias.

Entre o muito que há para ler nestas páginas, destaque para duas entrevistas, uma com o físico Vítor Cardoso, professor do Instituto Superior Técnico, e outra com o químico Nuno Maulide, professor na Universidade de Viena e especialista em química orgânica. Vítor Cardoso fala da física enquanto modo de explicar o mundo, o que vemos e o que só podemos calcular, e descreve o seu trabalho de um modo claro, sem com isso afastar a tremenda complexidade de fórmulas, cálculos e hipóteses: «O físico é uma criança que olha à sua volta e tenta perceber o que vê. Será que existem ingredientes básicos universais? E será que são os mesmos desde que o Universo nasceu até ao instante em que vai morrer? Hoje, achamos que temos uma boa ideia de quais são esses ingredientes, mas também sabemos que há coisas que falham. O trabalho de um físico é tentar consertar o que falha.»

Ilustração da Lei de Hooke, Lectures de Potentia Restitutiva, 1678

Na segunda entrevista, Nuno Maulide aborda algumas questões químicas a partir das práticas quotidianas (e ainda explica como evitar que cortar cebola nos faça lacrimejar), ampliando a sua reflexão para grandes questões que é preciso resolver e nas quais a química terá um papel fundamental: «A química orgânica passou os últimos 150 anos a tentar desenvolver métodos que permitam criar ligações carbono-carbono, porque é essa a maneira de gerar moléculas mais complexas. Como se faz isso? Da mesma maneira que as minhas gémeas brincam com Lego: pegam em blocos pequeninos e vão ligando uns aos outros. Se usarmos esta analogia na química, então usamos compostos pequenos, com poucos átomos de carbono, e tentamos ligá-los. Hoje, estamos numa situação em que também convinha ter métodos para destruir ligações carbono-carbono, já que o plástico tem muitas.»

São dois olhares sobre o universo baseados em conhecimentos altamente especializados, mas ainda assim capazes de comunicarem algumas das questões fundamentais, as de sempre e as que mais recentemente nos afligem. Do nascimento do Universo à passagem do tempo, das moléculas que nos compõem àquelas que precisamos de aprender a controlar, não é preciso ser cientista para ler estas entrevistas com prazer e proveito intelectual. O mesmo se diga do resto da revista, por onde passam temas como a saúde mental, a política universitária ou o registo fóssil das espécies de dinossauros em Portugal, entre várias outras coisas.

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