
Carnaval é luta
No rescaldo do Carnaval, um artigo para explorar as relações entre os festejos de rua e as lutas políticas.
Em muitos pontos do mundo, os festejos de Carnaval ocuparam as ruas nos últimos dias, celebração antiga entretanto transformada e re-transformada pelas mudanças sociais, políticas e religiosas ao longo de séculos. No Brasil, dependendo da geografia, esses festejos associam-se ao samba, aos desfiles e aos blocos, momentos em que as ruas são ocupadas pela festa, mas também pela luta política e pela consciência do passado. No site da Agência Pública, a investigadora Cláudia Alexandre fala sobre essa relação profunda entre Carnaval e política, entre festa e luta:
«Os cantos, as expressões, o gesto e o corpo foram utilizados pelo negro em cativeiro, em situação de escravizado, para se comunicar. Então, a festa, que muitas vezes foi lida como algo de entretenimento, para o negro eram códigos, símbolos muito elaborados pra se comunicar naquele momento. Então, se a gente for falar da história do samba, no início, a gente vai falar final do século 18 pro 19 os colonizadores, quando viam as expressões negro-africanas, não conseguiam saber se era reza, se era festa. Então, esse Carnaval brasileiro que a gente tanto admira, que faz parte da identidade nacional, é uma forma da gente lembrar nossa própria história, da gente aprender sobre nós. Se a gente for falar dos sambas-enredos que as escolas de samba nos trazem – elas trazem a história, principalmente os sambas ligados à cultura afro, às religiosidades –, ele traz a história de um povo que não tá contada, não tá contada nos livros. Então, em algum momento, a festa significou um grito pela liberdade, e hoje ela ainda significa, se você for falar sobre a história das escolas de samba, atos de resistência.»