Caim, 15 anos depois
Há 15 anos, em outubro de 2009, chegava às livrarias Caim, o último romance que José Saramago publicou. Lançado mundialmente em Penafiel, durante a Escritaria, o livro, nas palavras do autor, suscitou “ódios velhos e incompreensões”. Nos dias seguintes ao lançamento, José Saramago foi atacado pela Igreja Católica e acusado de fazer uma “leitura literal” do Antigo Testamento. Em resposta, disse que nunca vira tanta crítica a um livro que não tinha sido lido e advogou pelo direito à heresia e à dissidência.
“A Bíblia tem uma influência muito grande na nossa cultura e até na nossa maneira de ser. Sem a Bíblia seríamos outras pessoas, provavelmente melhores”, disse o escritor. “Não é contra Deus que escrevo, uma vez que ele não existe. É contra as religiões. Para que servem as religiões? Não servem para aproximar as pessoas, nunca serviram”, completou.
Nesta edição, a Blimunda recupera um texto da escritora Inês Pedrosa, publicado na altura do lançamento do livro, que aborda um aspecto que ficou em segundo plano aquando da publicação da Caim, a sua qualidade literária. “Caim, de José Saramago, é um romance. Isto é: uma ficção literária. É, alem disso, um bom romance, isto é: uma narrativa de grande beleza, que rasga o tecido dos saberes sossegados e ergue um vendaval de perguntas”, escreveu a autora.
Que a efeméride dos 15 anos de publicação de Caim sirva para que o romance de José Saramago seja lido e relido, e para que o direito à heresia seja, novamente, defendido.