Apanhar ar, apanhar sol
Isabel Minhós Martins
Bernardo P. Carvalho
Planeta Tangerina
Chega mais um livro informativo do Planeta Tangerina, desta vez dedicado ao ar e ao sol como o título indica. Constituição química, forças da física, efeitos nos ecossistemas e na vida na Terra, evolução do conhecimento científico, são alguns dos tópicos explorados.
Todavia, categorizá-lo como livro informativo parece pouco. A razão é evidente: não há uma tradição recente de edição de livros informativos de qualidade para o público infantil e juvenil. Ainda, a leitura competente continua excessivamente associada a um cânone literário.
Pois bem, à imagem do que acontece com outros géneros igualmente editados nesta casa (álbuns, livros interativos/ livros-jogo, narrativas juvenis e outros cuja designação é mais híbrida) também este livro apresenta propostas frescas que surpreendem e trazem novas camadas à leitura.
Em termos gráficos, temos dois temas com a mesma relevância, plasmada através de duas capas e não de uma capa e contracapa, como usualmente acontece. No centro do livro, ar e sol encontram-se, porque na verdade co-existem em dinâmicas que sustentam o planeta Terra. Para além das explicações que o texto nos apresenta, e da descrição do vento solar a fechar a parte sobre o sol, o azul escolhido para ilustrar o vento e o amarelo escolhido para o sol encontram-se em duas ilustrações de página dupla, em posições inversas, que assinalam a presença de ambos no mundo em que vivemos.
A profusão de ilustrações do livro assenta assim maioritariamente na relação entre a cor (azul ou amarelo) e as variações de negro e cinza que dão contexto aos elementos. Também a tipografia acompanha, como arte visual, os vários tipos discursivos que se intercalam, ora destacando factos e informações científicas, identificando personagens que nos podem representar ora introduzindo apontamentos lúdicos, maioritariamente expressivos que se associam às interpelações aos leitores. Entre essas, merecem particular atenção as propostas de desafios de desenho que se poderão realizar nas páginas do livro.
Significa isto então que a par da componente informativa, existe um conjunto de sugestões de atividades que o leitor pode ou não realizar e que vão desde desenhar sombras e cabelos ao vento até abrir um livro e observar o movimento das folhas a passar com o vento. Não há nenhuma pretensão de transformar esta proposta editorial num actividário mas a interação com o leitor, que vai pontilhando o texto e a composição gráfica, acrescenta valor e ritmo ao livro, pela fluidez com que acontece.
Finalmente, o texto. À imagem dos anteriores, os factos são narrados com uma retórica de surpresa e curiosidade. Não se trata de reduzir a informação a pormenores insólitos. Pelo contrário, a informalidade narrativa em nada boicota o rigor científico; consegue, isso sim, explicar com empatia processos complexos ao desmontar conceitos técnicos ou académicos através de explicações claras. Sobretudo, a limpidez do texto, mesmo quando define a alta e a baixa pressão ou a organicidade do sol, reside na capacidade de distinguir o essencial do acessório, propondo ao leitor novas questões sem nunca o deixar com uma sensação de que o que lhe é oferecido sabe a pouco.