A Música de Vicente Lusitano
Um compositor do século XVI para redescobrir no século XXI.
Quando percorremos a história da música erudita, um dos elementos constantes é semelhante ao que percorre todas as outras áreas do cânone da criação e do conhecimento: são homens brancos que figuram no panteão, ora porque não havia outras pessoas com acesso às ferramentas e aos meios para criar e conhecer, ora porque, mesmo quando havia, as suas oportunidades de canonização eram praticamente nulas. Foi assim que Vicente Lusitano, um compositor negro nascido em Portugal em 1520, deixou um espólio considerável de composições que não parecem ter tido grande impacto na Europa de então e que só agora foram redescobertas e trazidas ao conhecimento do grande público.
A história de Vicente Lusitano conta-se no site da BBC – Brasil: «O que sabemos é que Lusitano era um padre católico, compositor e teórico musical. Em 1551, ele deixou Portugal e mudou-se para Roma, capital musical multicultural da Europa na época, muito provavelmente seguindo um rico mecenas, o embaixador português. (…) embora seus feitos em Roma indiquem que Lusitano conquistou bastante respeito por sua música ao longo da vida, sua obra não foi publicada ou apresentada tanto quanto a de seus contemporâneos. Sua música parece não ter se difundido pela Europa. Isso fez com que Lusitano fosse apreciado pelos musicólogos de Portugal, mas não chegasse a estudiosos de fala não portuguesa. Houve momentos esporádicos de interesse acadêmico, mas que nunca renderam uma atenção prolongada, nem partituras modernas e acessíveis que pudessem ser compartilhadas com facilidade, nem apresentações daquilo que realmente interessa: sua música.»
Recentemente, músicos de diferentes origens redescobriram a obra deste compositor quase esquecido e têm vindo a trabalhar o seu repertório, ao vivo e em gravações, como conta a BBC. E talvez agora, cinco séculos passados, Vicente Lusitano possa finalmente integrar o panteão dos compositores ocidentais de música erudita.