A democracia virada do avesso
No dia 2 de Outubro há eleições no Brasil e, apesar de as sondagens indicarem uma mudança, o apego de Bolsonaro ao poder e o seu total desrespeito pela democracia fazem temer outros desfechos.
Na última edição da revista Piauí, Ana Carolina Evangelista descreve e analisa as celebrações do dia 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil, aproveitado por Bolsonaro para criar uma imensa encenação de campanha eleitoral, com apelos ao ódio e à violência e um imenso desrespeito pela política e pelas instituições brasileiras, pelos direitos humanos e pela democracia. As eleições no Brasil estão marcadas para o próximo dia 2 de Outubro e os temores relativos à violência e ao desrespeito pelos resultados por parte do actual presidente não são um exagero. Um excerto:
«Interrompido pelo som dos rasantes da esquadrilha da fumaça, a trilha sonora que animava os presentes dançando efusivamente variava entre o funk do MC Reaça que ataca agressivamente políticos e entidades de esquerda e movimentos sociais, o jingle da campanha e outras paródias no estilo de forró e brega pop, ora de promoção do candidato-presidente, ora de ataque a seus opositores. O clima de pessoas efusivas dançando forró ou funk contrastava com as frases de ódio contra políticos de esquerda, a esquerdalha em geral e o STF. Ecoando forte, em todas as bocas, enquanto as pessoas dançavam, como uma desconexão entre o conteúdo que era dito e um clima de confraternização e celebração.
“O presidente Bolsonaro já está no palco ao lado para uma cerimônia cívica e daqui a pouco ele tá aqui. Hoje é o dia da Independência e estamos aqui pelo mitooooooo”, e toda estrutura do exército brasileiro mobilizada para o evento de celebração do bicentenário da Independência do Brasil ornavam o comício eleitoral pela reeleição do presidente.
Não bastou a mera formalidade de não usar o palanque oficial ao lado do carro de som financiado por Silas Malafaia. O fato concreto, em meio àquela festa cívica capturada pelos militares e pelo bolsonarismo, é a união entre Estado e campanha, entre o Sete de Setembro do bicentenário da Independência e o Sete de Setembro pré-eleição. Utilizou-se para tanto toda a estrutura das Forças Armadas brasileiras. Na parada de Brasília ou nos movimentos aeronavais do Rio, militares converteram-se também em peças de campanha.»