Estante Andreia Brites 20 Junho 2025

A casa invisível
Francisca Camelo
Carolina Celas

APCC

O tom da narrativa é poético, com muitas imagens e um ritmo cadenciado que privilegia momentos de suspensão. Porque o texto assenta na descrição do que não se vê. A casa invisível existe, é um lugar de segurança, de identidade e de pertença. Sabemo-lo pelo texto e pela ilustração. A presença desta casa sente-se em ações que asseguram o conforto, a limpeza, o cuidado, a arrumação, as refeições, a memória. 
A ilustração aproxima a casa invisível do quotidiano, das casas reais onde vivem pessoas, e assim aproxima o leitor do tema do livro, que no texto é mais enigmático. A certa altura, parece (este é um verbo recorrente no texto) que esta casa invisível é semelhante às casas reais, mas mais tranquila, mais leve, mais harmoniosa. O que há de invisível aqui é o que há muitas vezes em excesso nas outras: ruído, agitação, movimento. 
Nas páginas finais, desvela-se essa invisibilidade, através das pessoas importantes da família e do que elas representam em termos emocionais para o narrador. Há uma associação entre as coisas invisíveis e as coisas incríveis, que valoriza essa entidade enigmática, chamando a atenção para a sua existência e para a necessidade de se sentir e percepcionar o contexto para além do óbvio e do que se vê. 
A casa invisível é o lugar do amor, que protege, cura, alimenta, acarinha. 
Em nenhum momento o texto ou a ilustração caem na tentação de apelarem à culpa ou à responsabilidade de se ver o amor. Ao contrário, a magia reside justamente na invisibilidade que se sente, que existe naturalmente e que faz sentir muito bem.

→ apcc.org.pt