O que vem à rede Sara Figueiredo Costa 2 Junho 2025

Causas possíveis para uma descalabro
Um artigo de análise e reflexão, sempre a partir de dados, sobre os resultados das últimas eleições legislativas em Portugal e a subida exponencial da extrema-direita.

Na revista Punkto, que se apresenta editorialmente como um «projecto indisciplinar e indisciplinado sobre a prática e sobre a teoria: da arquitectura, da crítica, da política, do comum», o crítico e ensaísta Pedro Levy Bismarck parte dos resultados eleitorais das recentes legislativas, analisando as suas diferenças geográficas e sociais, para uma reflexão sobre o que nos trouxe, meio século depois do 25 de Abril, a esta subida tão intensa da representação parlamentar da extrema-direita.

Neste texto não há leituras simplistas, nem respostas fechadas e únicas, ao contrário do desfile de certezas que tem passado nas televisões desde o dia 18 de Maio. Cruzando as assimetrias regionais com os processos políticos e de governação das últimas décadas, Pedro Levy Bismarck deixa uma série de boas reflexões que, a serem tidas em conta, talvez possam evitar males maiores. Mesmo sabendo que, colectivamente, não somos dados a ter em grande conta reflexões complexas e sem maniqueísmos, fica a sugestão de leitura e um pequeno excerto:

«A figura do imigrante é talvez aquela que melhor exprime e torna visível o paradigma desta economia associal, e, por isso, ele é um bode expiatório. A animosidade relativamente a essa economia destrutiva, esse sentimento de despossessão e de perda que atravessa o Portugal Rural é transferido para o imigrante. Porque aquilo que essas pessoas vêem no imigrante (desenraizado, deslocalizado, empobrecido) é o seu próprio reflexo: também elas se tornaram imigrantes num lugar que se tornou, também para elas, irreconhecível e estranho. Claro que isto não significa desvalorizar a existência de um racismo estrutural, animado de preconceitos relativamente alguém que é identificado como «outro». Curiosamente, em Monte Gordo passa-se o contrário: o turista, maioritariamente branco, não incarna essa lógica, porque é ele quem, desde logo, detém uma posição de superioridade de capital, mas a economia revela-se da mesma forma, isto é, na sua total associalidade e separação.»

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