Estante Andreia Brites 8 Janeiro 2025

A Maré 
Clare Helen Welsh
Ashling Lindsay
Nuvem de Letras
Tradução de Lara Xavier

O avô esquece-se de coisas que acontecem e de pessoas que conhece e que são importantes. A propósito de uma ida à praia, a sua neta e protagonista vai narrando os acontecimentos do dia, intercalados com as suas preocupações acerca do comportamento do avô.

Por isso, encontra paralelo entre as suas experiências e as ações do avô: o avô enterrou as sandes do piquenique na areia, na praia, e ela enterrou o seu urso de peluche no bosque ao pé de casa. Foi a mãe quem a ajudou a encontrá-lo. Recorda ainda o episódio em que se esquecera de como atar os sapatos e foi ajudada pela professora.

Em nenhum momento, ao longo do texto, é referida alguma doença, apenas o efeito que o esquecimento do avô provoca na narradora. Em nenhum momento é manifestada tristeza ou frustração, só preocupação. Ao longo da sua reflexão, a menina manifesta empatia, valoriza os sentimentos que sabe que o avô sente por ela, e ela por ele, e tenta ajudar o avô, estando atenta e recontando episódios de que este se esquecera. O discurso não tem qualquer pendor moral, devido à estrutura narrativa que relata os vários momentos do dia, entre os quais a intenção de verem, avô e neta, a maré a subir. Como uma espécie de refrão, a ação repete-se entre passeios e gelados, e recupera a ordem que aqui e ali se perde. 

A ilustração representa tudo o que a menina relata, valorizando gestos de afeto, entre olhares e sorrisos, abraços ou passeios de mãos dadas. 

Este álbum é um bom exemplo de como a ficção pode abordar temas como a velhice ou a demência sem paternalismos e moralismos, fazendo valer a história por si.

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